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Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

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— Ouvi-o gritar — disse Artur num tom <strong>de</strong> voz neutro.<br />

— A Bretanha inteira <strong>de</strong>ve tê-lo ouvido gritar — respondi eu numa<br />

infl exão <strong>de</strong> voz igualmente seca. Nimue <strong>de</strong>struíra a tenebrosa alma do rei<br />

pedaço por pedaço, nunca <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> trautear a meia voz a sua vingança<br />

sobre o homem que a violara e lhe arrancara um dos olhos.<br />

—Nesse caso, a Silúria precisa <strong>de</strong> um rei — disse Artur, contemplando<br />

o vale imenso até on<strong>de</strong> as silhuetas negras fl utuavam no meio da neblina e<br />

do fumo. As chamas projetavam sombras no seu rosto glabro, emprestando-lhe<br />

um aspeto macilento. Não era um homem bonito, mas tão-pouco<br />

era feio. Possuía, antes, um rosto singular: comprido, ossudo e resoluto. Em<br />

repouso era um rosto triste que <strong>de</strong>notava compaixão e um caráter sério,<br />

mas em momentos <strong>de</strong> conversa era animado pelo entusiasmo e por um<br />

sorriso fácil. Ainda era jovem nessa altura, tinha apenas trinta anos, e entre<br />

os seus cabelos curtos não se vislumbrava ainda qualquer fi o grisalho.<br />

— Vem. — Tocou-me no braço e fez um gesto na direção do vale.<br />

— Ousaríeis caminhar entre os mortos? — Recuei, horrorizado. Eu<br />

teria esperado até que a madrugada tivesse afugentado os vampiros antes<br />

<strong>de</strong> me aventurar para longe da luz protetora das fogueiras.<br />

— Fomos nós quem os transformou em mortos, Derfel, tu e eu — disse<br />

Artur, — por isso é natural que tenham medo <strong>de</strong> nós, não é?<br />

Nunca foi um homem supersticioso, ao contrário <strong>de</strong> nós, que suspirávamos<br />

por bênçãos, venerávamos amuletos e nunca <strong>de</strong>sistíamos <strong>de</strong> procurar<br />

presságios que pu<strong>de</strong>ssem pôr-nos <strong>de</strong> sobreaviso contra perigos iminentes.<br />

Artur movia-se naquele mundo <strong>de</strong> espíritos como um homem cego.<br />

— Vem — disse, tocando-me <strong>de</strong> novo no braço.<br />

Penetrámos, então, na escuridão. Não estavam todas mortas, aquelas<br />

coisas que jaziam enleadas na neblina, já que algumas imploravam por<br />

socorro em lamentos compungidos. Artur, porém, normalmente o mais<br />

bondoso dos homens, manteve-se surdo aos seus clamores débeis. Pensava<br />

na Bretanha.<br />

— Amanhã sigo para Sul — disse. — Vou encontrar-me com Tewdric.<br />

O rei Tewdric <strong>de</strong> Gwent era nosso aliado, mas recusara-se a enviar os<br />

seus homens para o Vale do Lugg, crente da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma vitória.<br />

Agora, o rei estava em dívida para connosco, pois tínhamos ganho uma<br />

guerra que era <strong>de</strong>le em seu lugar. Artur, no entanto, não era homem que<br />

guardasse ressentimentos.<br />

— Pedirei a Tewdric que envie um grupo <strong>de</strong> homens para Leste, para<br />

lutar contra os Saxões — continuou Artur — mas vou enviar Sagramor<br />

também. Isso <strong>de</strong>verá ser sufi ciente para segurar a fronteira durante o inverno.<br />

Os teus homens — brindou-me com um sorriso rápido — merecem<br />

um <strong>de</strong>scanso.<br />

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