13.04.2013 Views

Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tos anos antes, muito antes <strong>de</strong> ele ter fi cado a saber que o Cal<strong>de</strong>irão ainda<br />

existia. Deslocara-se até lá no tempo em que Leo<strong>de</strong>gan, o pai <strong>de</strong> Guinevere,<br />

governava o país antes da chegada dos navios grosseiros <strong>de</strong> Diwrnach,<br />

vindos da Irlanda com o fi to <strong>de</strong> arrasar Leo<strong>de</strong>gan e expulsar do país as suas<br />

fi lhas órfãs <strong>de</strong> mãe.<br />

— De manhã — disse Merlim, — caminharemos até à costa e pagaremos<br />

aos nossos barqueiros. Quando Diwrnach souber que pisámos os seus<br />

domínios, já teremos partido.<br />

— Ele seguir-nos-á até Ynys Mon — disse Galaad, nervoso.<br />

— Nessa altura também já teremos partido — disse Merlim.<br />

Espirrou. Parecia transido <strong>de</strong> frio. O nariz pingava, as faces estavam<br />

pálidas e <strong>de</strong> tempos a tempos tremia incontrolavelmente. Apesar disso conseguiu<br />

<strong>de</strong>scobrir umas ervas poeirentas que guardava <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma pequena<br />

bolsa <strong>de</strong> couro e engoliu-as juntamente com uma mão-cheia <strong>de</strong> neve<br />

<strong>de</strong>rretida, insistindo em dizer que se sentia bem.<br />

Na manhã seguinte, o seu aspeto era ainda pior. Tínhamos pernoitado<br />

numa fenda entre as rochas, on<strong>de</strong> não ousáramos acen<strong>de</strong>r uma fogueira, apesar<br />

do feitiço dissimulador que Nimue conseguira fazer com a ajuda <strong>de</strong> um<br />

crânio <strong>de</strong> doninha que encontráramos num ponto mais elevado da estrada.<br />

As nossas sentinelas tinham fi cado <strong>de</strong> guarda à planície costeira, on<strong>de</strong> três<br />

pequenos clarões <strong>de</strong> luz traíam a presença <strong>de</strong> vida, enquanto nós permanecíamos<br />

muito juntos, entre os rochedos, tremendo e maldizendo o frio e<br />

imaginando se a aurora chegaria a romper. Ela chegou, enfi m, espalhando<br />

uma clarida<strong>de</strong> penetrante e <strong>de</strong>sagradável que fazia com que a ilha distante<br />

parecesse mais escura e ameaçadora do que nunca. Todavia, o feitiço <strong>de</strong> Nimue<br />

pareceu surtir efeito, pois nenhum lanceiro guardava o fi m da Estrada<br />

Sombria.<br />

Merlim tremia e estava <strong>de</strong>masiado fraco para po<strong>de</strong>r andar. Por isso,<br />

quatro dos meus soldados transportavam-no numa padiola feita <strong>de</strong> capas<br />

e lanças, enquanto <strong>de</strong>slizávamos sem ser notados até às primeiras árvores<br />

<strong>de</strong> Lleyn, vergadas pelo vento. A estrada fazia um rombo naquele ponto e<br />

os sulcos que rasgavam a sua superfície estavam gelados nos sítios on<strong>de</strong> ela<br />

serpenteava por entre carvalhos arqueados, azevinho franzino e pequenos<br />

campos votados ao abandono. Merlim gemia e estremecia, e Issa perguntou<br />

se não seria melhor voltar para trás.<br />

— Voltar a atravessar as montanhas — disse Nimue — seria com certeza<br />

a morte <strong>de</strong>le. Seguimos em frente.<br />

Chegámos a uma bifurcação e aí encontrámos o primeiro indício <strong>de</strong><br />

Diwrnach. Era um esqueleto, atado com cordas feitas <strong>de</strong> crina <strong>de</strong> cavalo<br />

e pendurado num poste, cujas ossadas ressequidas chocalhavam agitadas<br />

pelo vento agreste que soprava <strong>de</strong> oeste. Por baixo dos ossos viam-se três<br />

109

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!