Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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<strong>de</strong> abundância <strong>de</strong> palha para que os homens arranjassem assentos secos.<br />
Tochas ensopadas em pez tinham sido amarradas a estacas e, momentos<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> a Lua ter nascido, foram acesas e o recinto real foi subitamente<br />
iluminado por chamas tremeluzentes. A cerimónia <strong>de</strong> casamento seria realizada<br />
à luz do dia para que Gwydion, o Deus da Luz, e Belenos, o Deus do<br />
Sol, conce<strong>de</strong>ssem a sua bênção, mas o noivado estava sob a bênção da Lua.<br />
De quando em vez, a fagulha <strong>de</strong> uma tocha fl utuaria até ao solo para pousar<br />
num pedaço <strong>de</strong> palha e logo ressoariam gargalhadas, gritos <strong>de</strong> criança,<br />
latidos <strong>de</strong> cães e um acesso <strong>de</strong> pânico até o fogo ser extinto.<br />
Mais <strong>de</strong> cem homens tinham sido convidados a transpor os muros do<br />
palácio <strong>de</strong> Cuneglas. Grupos <strong>de</strong> círios e velas <strong>de</strong> pavio projetavam sombras<br />
estranhas e vacilantes nos altos tetos <strong>de</strong> colmo, on<strong>de</strong> os pequenos ramos <strong>de</strong><br />
folhas <strong>de</strong> faia se misturavam agora com as primeiras bagas <strong>de</strong> azevinho do<br />
ano. A única mesa que havia no salão fora colocada sobre o estrado, <strong>de</strong>baixo<br />
<strong>de</strong> uma fi leira <strong>de</strong> escudos, cada um dos quais com um círio na base que<br />
iluminava a divisa pintada sobre o couro. Ao centro estava o escudo real <strong>de</strong><br />
Powys, pertença <strong>de</strong> Cuneglas, com a sua águia <strong>de</strong> asas abertas, enquanto<br />
num dos lados da águia aparecia o urso negro <strong>de</strong> Artur e no outro o dragão<br />
vermelho <strong>de</strong> Dumnónia. A divisa <strong>de</strong> Guinevere, um veado coroado pela<br />
lua, estava pendurado ao lado do urso, enquanto a águia-marinha <strong>de</strong> Lancelote<br />
voava ao lado do dragão, com um peixe preso entre as garras. Não<br />
estava presente nenhum representante <strong>de</strong> Gwent, mas Artur insistira em<br />
que o touro negro <strong>de</strong> Tewdric fosse pendurado juntamente com o cavalo<br />
vermelho <strong>de</strong> Elmet e a máscara <strong>de</strong> raposa da Silúria. Os símbolos reais marcavam<br />
a gran<strong>de</strong> aliança, a barreira <strong>de</strong>fensiva que repeliria os Saxões para a<br />
costa.<br />
Iorweth, o druida supremo <strong>de</strong> Powys, anunciou o momento em que<br />
dava como certo o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong>fi nitivo dos últimos raios do Sol<br />
moribundo no longínquo mar da Irlanda, após o que os convidados <strong>de</strong><br />
honra ocuparam os respetivos lugares sobre o estrado. Quanto a nós, já<br />
estávamos sentados no chão do salão, on<strong>de</strong> os homens reclamavam uma<br />
quantida<strong>de</strong> do famoso e po<strong>de</strong>roso hidromel <strong>de</strong> Powys que fora especialmente<br />
preparada para essa noite. Vivas e aplausos acolheram os convidados<br />
<strong>de</strong> honra.<br />
A rainha Elaine foi a primeira a entrar. A mãe <strong>de</strong> Lancelote estava vestida<br />
<strong>de</strong> azul. Em volta do pescoço trazia uma corrente <strong>de</strong> ouro <strong>de</strong> metal<br />
torcido e um fi o também dourado prendia os caracóis dos seus cabelos grisalhos.<br />
Em seguida, uma sonora aclamação recebeu Cuneglas e a rainha<br />
Helledd. O rosto redondo do rei irradiava prazer perante a perspetiva das<br />
celebrações da noite, em honra das quais atara pequenas fi tas brancas aos<br />
bigo<strong>de</strong>s balouçantes. Artur vinha sobriamente vestido <strong>de</strong> negro, enquanto<br />
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