Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
que o levara a procurar a minha companhia naquela bela manhã. — Dentro<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos — continuou, — terá ida<strong>de</strong> sufi ciente para assumir o trono.<br />
Já não falta muito para isso, Derfel, não falta mesmo muito, e é necessário<br />
educá-lo bem durante esses <strong>de</strong>z anos. Tem <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a ler e a escrever,<br />
a manejar a espada e tem <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a ser responsável. — Acenei com a<br />
cabeça em sinal <strong>de</strong> concordância, embora sem qualquer entusiasmo. Mordred,<br />
que tinha cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, iria certamente apren<strong>de</strong>r tudo o que<br />
Artur <strong>de</strong>sejava que ele apren<strong>de</strong>sse, mas eu não percebia o que é que isso<br />
tinha a ver comigo. Artur pensava <strong>de</strong> forma diferente.<br />
— Quero que sejas seu protetor — disse ele, apanhando-me <strong>de</strong> surpresa.<br />
— Eu! — exclamei.<br />
— Nabur está mais preocupado com a sua própria prosperida<strong>de</strong> do<br />
que com o caráter <strong>de</strong> Mordred — disse Artur. Nabur era o magistrado cristão,<br />
atual protetor <strong>de</strong> Mordred, e fora ele quem conspirara com mais vigor<br />
para <strong>de</strong>struir o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Artur; Nabur e, é claro, o bispo Sansum. — E Nabur<br />
não é <strong>de</strong> modo nenhum um soldado — prosseguiu Artur. — Rezo para<br />
que Mordred reine em paz, Derfel, mas ele precisa <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r as artes da<br />
guerra, todos os reis precisam, e não me ocorre ninguém melhor do que tu<br />
para o treinar.<br />
— Eu não — protestei. — Sou <strong>de</strong>masiado jovem!<br />
Artur riu perante esta objeção.<br />
— Os jovens <strong>de</strong>vem ser educados pelos jovens, Derfel — disse ele.<br />
Uma trombeta distante soou anunciando que no fundo do vale se iniciara<br />
a caçada. Nós, os caçadores, enterrámo-nos no arvoredo passando<br />
por cima do emaranhado <strong>de</strong> roseiras bravas e troncos mortos carregados<br />
<strong>de</strong> fungos. Avançávamos <strong>de</strong>vagar, agora, à espera <strong>de</strong> ouvir o som aterrorizador<br />
<strong>de</strong> um javali fazendo estalar os arbustos.<br />
— Além disso — continuei, — o meu lugar é no seio do vosso escudo<br />
<strong>de</strong>fensivo, não nos aposentos <strong>de</strong> Mordred.<br />
— Continuarás a fazer parte do meu escudo <strong>de</strong>fensivo. Julgas que me<br />
daria ao luxo <strong>de</strong> te per<strong>de</strong>r, Derfel? — disse Artur com um sorriso. — Não te<br />
quero amarrado a Mordred, quero apenas que ele vá para tua casa. Preciso<br />
que ele seja educado por um homem honesto.<br />
Ignorei o elogio e <strong>de</strong>pois pensei, assaltado pela culpa, no osso limpo<br />
e intacto que guardava <strong>de</strong>ntro da minha bolsa. Seria honesto, cismei,<br />
servir-me da magia para fazer com que Ceinwyn mudasse <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias? Fitei-a,<br />
e ela olhou na minha direção sorrindo timidamente.<br />
— Não tenho casa — disse eu a Artur.<br />
— Mas em breve terás uma — disse ele. Depois ergueu uma mão e<br />
eu gelei, escutando os sons que se faziam sentir à nossa frente. Uma coisa<br />
55