Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
lho ténue das fogueiras espreitava através das aberturas baixas por baixo<br />
dos tetos <strong>de</strong> fetos. De <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma das cabanas soou uma voz masculina<br />
chamando em tom <strong>de</strong> <strong>de</strong>safi o, mas eu respondi-lhe que viajava em paz e ele<br />
calou o cão que <strong>de</strong>satara a ladrar.<br />
Deixei a estrada para ir dar a um carreiro estreito que subia, serpentente,<br />
a encosta <strong>de</strong> Dolforwyn. Tive medo que a escuridão me afastasse do<br />
caminho que seguia sob as copas dos carvalhos frondosos que povoavam a<br />
encosta, mas as nuvens <strong>de</strong> chuva tornaram-se menos compactas para <strong>de</strong>ixar<br />
penetrar um luar pálido através da <strong>de</strong>nsa folhagem, tornando visível o<br />
trilho empedrado que subia pela colina real, na direção do Sol. Ninguém ali<br />
vivia. Era um sítio para os carvalhos, as pedras e o mistério.<br />
O trilho ligava o arvoredo ao vasto espaço aberto do cume on<strong>de</strong> se<br />
erguia, solitária, a sala das celebrações e on<strong>de</strong> o círculo <strong>de</strong> pedras eretas<br />
marcava o local on<strong>de</strong> Cuneglas fora aclamado. Este cume era o local mais<br />
sagrado <strong>de</strong> Powys. Todavia, durante a maior parte do ano, permanecia <strong>de</strong>serto,<br />
sendo usado apenas para celebrações importantes e em épocas <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> solenida<strong>de</strong>. Agora, à luz pálida do luar, a sala estava envolta na escuridão<br />
e o topo da colina estava, aparentemente, vazio.<br />
Detive-me junto à orla <strong>de</strong> carvalhos. Uma coruja branca voou sobre a<br />
minha cabeça, o seu corpo atarracado roçando apressadamente a crista do<br />
meu elmo, adornado com uma cauda <strong>de</strong> lobo. A coruja era um presságio,<br />
mas eu não conseguia saber se esse presságio era bom ou mau e, <strong>de</strong> súbito,<br />
senti-me assustado. A curiosida<strong>de</strong> atraíra-me até este lugar, mas agora eu<br />
pressentia o perigo. Merlim não me ofereceria os <strong>de</strong>sejos da minha alma a<br />
troco <strong>de</strong> nada, o que signifi cava que eu estava aqui para fazer uma escolha,<br />
uma escolha, suspeitava eu, que não iria querer fazer. De facto, o meu medo<br />
era tal que quase virei costas e me encaminhei para o arvoredo envolto na<br />
escuridão. Foi então que um latejar na cicatriz da minha mão esquerda me<br />
obrigou a permanecer no mesmo lugar.<br />
A cicatriz fora ali colocada por Nimue e sempre que ela latejava, eu<br />
sabia que o meu <strong>de</strong>stino tinha escapado a qualquer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha<br />
da minha parte. Estava ligado a Nimue por um juramento. Não podia<br />
retroce<strong>de</strong>r.<br />
A chuva parara e as nuvens pareciam agora em farrapos. Um vento<br />
frio varria as copas das árvores, mas não chovia. Ainda estava escuro. A<br />
madrugada já não <strong>de</strong>via tardar, mas não se vislumbrava ainda qualquer indício<br />
da luminosida<strong>de</strong> rosada por <strong>de</strong>trás das colinas a leste. Havia apenas o<br />
luar bruxuleante que transformava as pedras do círculo real <strong>de</strong> Dolforwyn<br />
num conjunto <strong>de</strong> silhuetas prateadas incrustadas na escuridão.<br />
Avancei na direção do círculo <strong>de</strong> pedras e o bater do meu coração<br />
abafava o ruído provocado pelas minhas botas pesadas. No entanto, nin-<br />
45