Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
telo e agora punha e dispunha da fi lha do seu senhor, impondo-lhe um<br />
casamento.<br />
Eu observava Guinevere enquanto, com a mão direita, tirava o osso <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ntro da minha bolsa. A costeleta parecia macia sob os meus <strong>de</strong>dos e Issa,<br />
perfi lado atrás <strong>de</strong> mim com o meu escudo, <strong>de</strong>ve ter perguntado a si mesmo<br />
que signifi cado po<strong>de</strong>ria ter para mim aquele resto <strong>de</strong> comida naquela noite<br />
<strong>de</strong> ouro e fogo, iluminada pela luz da Lua.<br />
Olhei para a enorme porta do salão no preciso instante em que<br />
Ceinwyn apareceu e, nos segundos que antece<strong>de</strong>ram a explosão <strong>de</strong> vivas<br />
que ressoou por todo o salão, ouviu-se uma exclamação <strong>de</strong> admiração.<br />
Nem todo o ouro da Bretanha, nem nenhuma das rainhas <strong>de</strong> outrora po<strong>de</strong>riam<br />
ter ofuscado Ceinwyn naquela noite. Não precisei sequer <strong>de</strong> olhar<br />
para Guinevere para saber que ela tinha sido completamente vencida pela<br />
astúcia naquela noite <strong>de</strong> beleza.<br />
Esta era, eu bem o sabia, a quarta festa <strong>de</strong> noivado <strong>de</strong> Ceinwyn. Viera<br />
aqui uma vez por Artur, mas ele quebrara o compromisso <strong>de</strong>ixando-se<br />
enfeitiçar pelo amor <strong>de</strong> Guinevere. Em seguida, Ceinwyn fi cara noiva <strong>de</strong><br />
um príncipe da distante Rheged. Este, porém, morrera em consequência<br />
<strong>de</strong> uma febre antes do casamento; <strong>de</strong>pois, ainda não há muito tempo, usara<br />
o colar <strong>de</strong> noivado por Gundleus da Silúria, mas este perecera gritando às<br />
mãos cruéis <strong>de</strong> Nimue. Agora, pela quarta vez, Ceinwyn transportava o colar<br />
por um homem. Lancelote <strong>de</strong>ra-lhe um tesouro imenso, mas o costume<br />
ditava que ela lhe retribuísse presenteando-o com um vulgar cabresto <strong>de</strong><br />
boi, signifi cando <strong>de</strong>ssa forma que a partir <strong>de</strong>sse dia se submeteria à autorida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>le.<br />
Lancelote levantou-se quando ela entrou e o meio sorriso converteu-se<br />
num olhar <strong>de</strong> alegria, o que não era <strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>r, já que a sua beleza<br />
era arrebatadora. Nos noivados anteriores, tal como convinha a uma<br />
princesa, Ceinwyn aparecera envolta em joias e prata, ouro e adornos vários.<br />
Esta noite, no entanto, usava apenas um simples vestido branco, cingido<br />
por um cordão azul-claro, caído ao longo da saia singela que terminava<br />
em borlas. Nem um fi o <strong>de</strong> prata embelezava os seus cabelos, nem o mais<br />
pequeno vestígio <strong>de</strong> ouro cintilava no seu pescoço, não trazia quaisquer<br />
joias preciosas, apenas o vestido <strong>de</strong> linho e, em torno do cabelo louro-claro,<br />
uma <strong>de</strong>licada grinalda azul feita com as últimas violetas estivais. Não<br />
calçava sapatos, mas caminhava <strong>de</strong>scalça sobre as pétalas. Não evi<strong>de</strong>nciava<br />
sinais <strong>de</strong> realeza ou quaisquer símbolos <strong>de</strong> riqueza. Deslocara-se até ao<br />
salão vestida <strong>de</strong> forma tão singela como uma camponesa e conseguira um<br />
triunfo. Não era <strong>de</strong> admirar que os homens suspirassem, não era <strong>de</strong> admirar<br />
que a aplaudissem à medida que ela avançava, lenta e timidamente,<br />
por entre os convivas. Cuneglas lacrimejava <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>, Artur li<strong>de</strong>rava<br />
74