Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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que pretendia fazer <strong>de</strong> mim paladino <strong>de</strong> Mordred e seu cunhado. Cavan<br />
recebeu as notícias da minha prosperida<strong>de</strong> iminente com gran<strong>de</strong> satisfação,<br />
pois era um irlandês con<strong>de</strong>nado ao exílio que procurara transformar o<br />
seu talento para manusear a lança e a espada em fortuna, na Dumnónia <strong>de</strong><br />
Uther. No entanto, esta fortuna teimava <strong>de</strong> certo modo em iludi-lo. Tinha o<br />
dobro da minha ida<strong>de</strong>, era um homem atarracado, <strong>de</strong> ombros largos, barba<br />
grisalha e com umas mãos cobertas pelos anéis típicos dos guerreiros, que<br />
forjávamos a partir das armas dos inimigos <strong>de</strong>rrotados. Estava feliz pelo<br />
facto <strong>de</strong> o meu casamento signifi car ouro e <strong>de</strong>u provas <strong>de</strong> muito tato no que<br />
se referia à noiva que traria esse metal.<br />
— Não é uma belda<strong>de</strong> como a irmã — disse ele.<br />
— É certo — admiti.<br />
— Na verda<strong>de</strong> — disse ele, abdicando do tato, — é feia como um saco<br />
<strong>de</strong> sapos.<br />
— Não tem <strong>de</strong> facto nenhuma beleza especial — acedi.<br />
— Mas são as menos bonitas que fazem as melhores esposas, senhor<br />
— <strong>de</strong>clarou ele, que nunca tinha sido casado mas que tão-pouco era um<br />
homem solitário. — E ela vai trazer prosperida<strong>de</strong> para todos nós — acrescentou<br />
feliz; esta era obviamente a razão que me levava a casar com a infeliz<br />
Gwenhwyvach. O meu bom senso não podia <strong>de</strong>positar qualquer tipo<br />
<strong>de</strong> fé na costeleta <strong>de</strong> porco que guardava <strong>de</strong>ntro da minha bolsa, e o meu<br />
<strong>de</strong>ver para com os meus homens era recompensá-los pela sua lealda<strong>de</strong>, recompensas<br />
estas que tinham escasseado durante o ano anterior. Tinham<br />
perdido virtualmente tudo o que possuíam com a queda <strong>de</strong> Ynys Trebes<br />
e em seguida tinham combatido contra o exército <strong>de</strong> Gorfyddyd, no Vale<br />
do Lugg. Agora estavam cansados, mais pobres, e não havia homens que<br />
merecessem mais da parte do seu amo e senhor do que eles.<br />
Sau<strong>de</strong>i os meus quarenta homens, que esperavam indicações para se<br />
instalarem. Senti-me contente ao ver Issa no meio <strong>de</strong>les, já que ele era o melhor<br />
dos meus lanceiros: um moço <strong>de</strong> lavoura, dotado <strong>de</strong> uma força imensa<br />
e <strong>de</strong> um otimismo inesgotável, que protegia o meu fl anco direito nas batalhas.<br />
Abracei-o e <strong>de</strong>pois expressei o meu pesar por não ter oferendas para<br />
lhes dar.<br />
— Mas a nossa recompensa está para breve — acrescentei, olhando<br />
em seguida para as duas dúzias <strong>de</strong> raparigas que <strong>de</strong>viam ter seduzido na<br />
Silúria, — ainda que me sinta muito satisfeito por ver que a maioria <strong>de</strong> vós<br />
já encontrou algumas recompensas por iniciativa própria.<br />
Riram. A rapariga <strong>de</strong> Issa era uma bonita criança <strong>de</strong> cabelo escuro <strong>de</strong><br />
talvez catorze verões. Ele apresentou-ma.<br />
— Scarach, senhor — pronunciou o nome <strong>de</strong>la com orgulho.<br />
— Irlan<strong>de</strong>sa? — perguntei-lhe.<br />
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