Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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e fetos, que carecia <strong>de</strong> uma reparação urgente. No interior havia três divisões.<br />
Uma <strong>de</strong>las, a principal, abrigara outrora os poucos animais da quinta.<br />
Varrêmo-la e limpámo-la para a transformar num espaço minimamente<br />
habitável. As outras duas divisões correspondiam aos quartos <strong>de</strong> dormir,<br />
um para Ceinwyn e outro para mim.<br />
— Prometi a Merlim — dissera ela naquela primeira noite, tentando<br />
justifi car a existência dos dois quartos <strong>de</strong> dormir.<br />
Senti uma <strong>de</strong>sagradável sensação <strong>de</strong> formigueiro espalhar-se pela minha<br />
pele.<br />
— O que é que lhe prometeste? — perguntei.<br />
Ela <strong>de</strong>ve ter corado, mas o luar não conseguia penetrar nas profun<strong>de</strong>zas<br />
<strong>de</strong> Cwm Isaf, impedindo-me assim <strong>de</strong> distinguir o seu rosto. Apenas<br />
podia sentir a pressão dos <strong>de</strong>dos <strong>de</strong>la entrelaçados nos meus.<br />
— Prometi-lhe — disse, lentamente — que me manteria virgem até<br />
encontrarmos o Cal<strong>de</strong>irão.<br />
Nesse momento comecei a compreen<strong>de</strong>r quão subtil fora Merlim.<br />
Subtil, perverso e esperto. Precisava <strong>de</strong> um guerreiro que o protegesse durante<br />
a viagem até Lleyn e precisava <strong>de</strong> uma virgem para encontrar o Cal<strong>de</strong>irão,<br />
por isso manipulara-nos a ambos.<br />
— Não! — protestei. — Tu não po<strong>de</strong>s entrar em Lleyn!<br />
— Só uma virgem po<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir o Cal<strong>de</strong>irão — sussurrou-nos Nimue<br />
na escuridão. —Preferias que levássemos uma criança, Derfel?<br />
— Ceinwyn não po<strong>de</strong> ir para Lleyn — insisti.<br />
— Silêncio — calava-me Ceinwyn. — Eu prometi. Fiz um juramento.<br />
— Sabes o que é Lleyn? — perguntei-lhe. — Sabes o que faz Diwrnach?<br />
— Sei — disse ela — que a viagem até lá é o preço que tenho <strong>de</strong> pagar<br />
para estar aqui contigo. E prometi a Merlim — repetiu ela. — Fiz um juramento.<br />
Foi assim que dormi sozinho naquela noite. Na manhã seguinte, no<br />
entanto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> termos partilhado um mo<strong>de</strong>sto pequeno-almoço na<br />
companhia dos nossos lanceiros e criados e antes <strong>de</strong> eu ter incrustado os<br />
fragmentos <strong>de</strong> osso no punho <strong>de</strong> Hywelbane, Ceinwyn acompanhou-me<br />
num passeio ao longo do ribeiro <strong>de</strong> Cwm Isaf. Escutou os meus argumentos<br />
infl amados contra a sua intenção <strong>de</strong> percorrer a Estrada Sombria, mas<br />
rejeitou-os a todos alegando que se Merlim estava connosco, quem po<strong>de</strong>ria<br />
triunfar sobre nós?<br />
— Diwrnach — disse eu, num tom resoluto.<br />
— Mas tu irás acompanhar Merlim, não é verda<strong>de</strong>? — perguntou-me.<br />
— Sim.<br />
— Nesse caso, não tentes impedir-me — insistiu. — Estarei contigo, e<br />
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