Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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dos os pagãos tivessem sido convertidos à Sua fé. Os pregadores, cientes <strong>de</strong><br />
que Artur era pagão, lançavam-lhe maldições, mas Artur ignorava as suas<br />
palavras durante os seus infi ndáveis périplos pelo Sul da Bretanha. O dia<br />
chegaria em que ele e Sagramor estariam juntos na fronteira <strong>de</strong> Aelle e, no<br />
dia seguinte, estariam a lutar contra um dos bandos <strong>de</strong> guerreiros <strong>de</strong> Cerdic<br />
que avançavam pelos vales a sul. Depois cavalgaria para norte, através da<br />
Dumnónia e direito a Isca, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter atravessado Gwent, on<strong>de</strong> negociaria<br />
com os chefes locais o número <strong>de</strong> soldados que po<strong>de</strong>riam ser recrutados<br />
a oci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Gwent e a leste da Silúria. Graças ao Vale do Lugg, Artur era<br />
agora muito mais do que o Senhor Supremo <strong>de</strong> Dumnónia e do que o tutor<br />
<strong>de</strong> Mordred. Era o senhor da guerra da Bretanha, o lí<strong>de</strong>r indiscutível <strong>de</strong><br />
todos os nossos exércitos, e não havia rei que se recusasse a aten<strong>de</strong>r aos seus<br />
chamados ou que, naqueles dias, quisesse fazê-lo.<br />
No entanto, tudo isto eu perdi, pois encontrava-me em Caer Sws na<br />
companhia <strong>de</strong> Ceinwyn, apaixonado.<br />
E esperava Merlim.<br />
Merlim e Nimue chegaram a Cwm Isaf escassos dias antes do solstício<br />
<strong>de</strong> inverno. Nuvens negras acumulavam-se mesmo por cima das copas<br />
<strong>de</strong>sfolhadas dos carvalhos nas serranias em volta e a geada matinal persistia<br />
já a tar<strong>de</strong> ia avançada. O ribeiro era um labirinto <strong>de</strong> placas <strong>de</strong> gelo e<br />
<strong>de</strong> água escorrendo gota a gota, as folhas mortas estavam quebradiças e o<br />
solo do vale era duro como pedra. Acendêramos uma fogueira no aposento<br />
central e a nossa casa estava sufi cientemente aquecida, ainda que estivesse<br />
saturada <strong>de</strong> fumo que revoluteava em torno do travejamento irregular antes<br />
<strong>de</strong> encontrar a pequena abertura na linha <strong>de</strong> junção do telhado. Outras<br />
fogueiras ardiam nos abrigos que os meus soldados tinham erigido em toda<br />
a extensão do vale: pequenas cabanas resistentes feitas <strong>de</strong> terra e pedras que<br />
suportavam telhados <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e fetos. Tínhamos construído um abrigo<br />
para os animais na parte <strong>de</strong> trás da casa, on<strong>de</strong> um touro, duas vacas, três<br />
porcas, um javali, uma dúzia <strong>de</strong> carneiros e uma vintena <strong>de</strong> galinhas fi cavam<br />
guardados durante a noite, a salvo dos ataques dos lobos. Havia muitos<br />
lobos nos bosques em redor e os seus uivos ecoavam todos os dias à hora<br />
do crepúsculo; em certas noites era possível ouvir o arranhar das suas garras<br />
do outro lado da cabana dos animais. Os carneiros baliam tristemente,<br />
as galinhas cacarejavam assaltadas pelo pânico e Issa, ou quem quer que<br />
estivesse <strong>de</strong> guarda, gritava e atirava violentamente um tição na direção da<br />
orla do bosque para espantar os lobos. Uma manhã bem cedo, quando me<br />
dirigia até ao ribeiro a fi m <strong>de</strong> ir buscar água, <strong>de</strong>i comigo frente a frente com<br />
um lobo velho e enorme. Tinha estado a beber água, mas no momento<br />
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