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Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

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va em <strong>de</strong>clínio, ainda escalávamos a subida que nos conduziria à passagem.<br />

Durante toda a tar<strong>de</strong>, a Estrada Sombria serpenteara colina acima, embora<br />

na realida<strong>de</strong> a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> estrada soasse ridícula, pois nada mais era<br />

do que um medonho caminho pedregoso aqui e ali interrompido por um<br />

ribeiro gelado, frequentemente pontuado por pequenas quedas <strong>de</strong> água <strong>de</strong><br />

cujos rebordos pendiam pingentes <strong>de</strong> gelo. Os póneis não paravam <strong>de</strong> escorregar<br />

e, por vezes, recusavam-se pura e simplesmente a mover-se; tínhamos<br />

a impressão <strong>de</strong> passar mais tempo a ampará-los do que a conduzi-los,<br />

mas no momento em que as últimas luzes frias morriam a oci<strong>de</strong>nte, chegámos<br />

ao <strong>de</strong>sfi la<strong>de</strong>iro, que era tal e qual como eu o entrevira no sonho<br />

arrepiante que tivera no cume do Dolforwyn. Era tão ermo quanto gelado,<br />

embora não houvesse nenhum vampiro negro a barrar a Estrada Sombria,<br />

que agora se precipitava a pique para a estreita planície costeira <strong>de</strong> Lleyn,<br />

seguindo <strong>de</strong>pois para norte, em direção à costa.<br />

E para além da costa fi cava Ynys Mon.<br />

Eu nunca vira a Ilha Abençoada. Ouvira falar nela durante toda a minha<br />

vida, conhecia o seu po<strong>de</strong>r e lamentava a <strong>de</strong>struição infl igida pelos<br />

Romanos no Ano Negro, mas nunca a tinha visto a não ser em sonhos.<br />

Naquele momento, no crepúsculo <strong>de</strong> inverno, não apresentava qualquer<br />

semelhança com a sua imagem i<strong>de</strong>alizada. Não estava banhada pelo Sol,<br />

mas sim obscurecida pelas nuvens, o que fazia com que a gran<strong>de</strong> ilha parecesse<br />

sombria e ameaçadora, um prenúncio agravado pelo cintilar sinistro<br />

dos lagos negros que trespassavam as suas colinas pouco elevadas. A ilha<br />

quase não tinha neve, mas as suas cristas rochosas surgiam esbranquiçadas,<br />

fruto da erosão provocada pela ferocida<strong>de</strong> do mar cinzento. Caí <strong>de</strong> joelhos<br />

perante a visão da ilha, todos nós o fi zemos à exceção <strong>de</strong> Galaad; mas até ele<br />

acabou por apoiar um dos joelhos no solo em sinal <strong>de</strong> respeito. Enquanto<br />

cristão, sonhava por vezes com uma viagem a Roma ou à longínqua Jerusalém,<br />

se é que esta existia realmente, mas Ynys Mon era a nossa Roma e<br />

a nossa Jerusalém, e naquele momento o seu solo sagrado <strong>de</strong>sdobrava-se<br />

perante os nossos olhos.<br />

Além disso estávamos em Lleyn. Tínhamos atravessado a fronteira<br />

não <strong>de</strong>marcada e, abaixo <strong>de</strong> nós, estendiam-se os esparsos povoados da<br />

planície costeira, as terras arrendadas <strong>de</strong> Diwrnach. Os campos estavam<br />

ligeiramente cobertos <strong>de</strong> neve, colunas <strong>de</strong> fumo escapavam-se das cabanas,<br />

mas nenhum movimento humano parecia visível naquele espaço escuro e<br />

todos nós, creio eu, perguntávamos a nós próprios como iríamos atravessar<br />

o espaço que separava o continente da ilha.<br />

— Existem barqueiros nos estreitos — disse Merlim, lendo os nossos<br />

pensamentos.<br />

Ele era o único que já estivera em Ynys Mon, mas isso acontecera mui-<br />

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