Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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altos rochedos, após o que nos dispusemos a escalá-los. Uma lança <strong>de</strong> cabo<br />
preto embateu sonoramente nas rochas ao meu lado, em seguida uma mão<br />
forte alcançou-me, agarrou-me pelo pulso e levantou-me no ar. Merlim<br />
tinha sido içado até aos rochedos da mesma maneira, sendo em seguida<br />
largado sem cerimónias na zona central do cimo do rochedo, on<strong>de</strong>, qual<br />
taça coroada por um anel feito <strong>de</strong> imensos pedregulhos, havia uma funda<br />
concavida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pedra. Ceinwyn estava lá <strong>de</strong>ntro, esgaravatando as pedrinhas<br />
que enchiam a taça como um cão enlouquecido. Tinha vomitado e as<br />
suas mãos moviam-se, absortas, entre a amálgama <strong>de</strong> vomitado e pedras<br />
frias e pequenas.<br />
O pequeno monte era excelente como local <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Os inimigos<br />
apenas podiam escalar as rochas com a ajuda das mãos e dos pés, enquanto<br />
nós po<strong>de</strong>ríamos abrigar-nos nas gretas do cume e enfrentá-los à medida<br />
que fossem surgindo. Alguns <strong>de</strong>les tentaram chegar até nós, gritando quando<br />
as lâminas lhes retalhavam os rostos. As lanças choveram sobre as nossas<br />
cabeças, mas nós conservámos os escudos erguidos e as armas embatiam<br />
com ruído mas sem perigo. Coloquei seis homens na concavida<strong>de</strong> central e<br />
eles usaram os respetivos escudos para proteger Merlim, Nimue e Ceinwyn<br />
enquanto os restantes lanceiros guardavam a orla exterior do cume rochoso.<br />
Tendo abandonado os póneis, os Escudos Sanguinários fi zeram nova<br />
investida e durante alguns instantes não tivemos <strong>de</strong>scanso, apunhalando e<br />
golpeando. Um dos meus homens fi cou ferido num braço durante essa breve<br />
escaramuça, mas foi a única baixa. Os cavaleiros negros, pelo contrário,<br />
levaram quatro mortos e seis feridos <strong>de</strong> volta ao sopé do monte.<br />
— É o que acontece — disse eu aos meus homens — aos escudos feitos<br />
com a pele <strong>de</strong> donzelas.<br />
Esperámos pela investida seguinte, mas nada aconteceu. Em vez disso,<br />
Diwrnach subiu a colina a cavalo, sozinho.<br />
— Lor<strong>de</strong> Derfel? — chamou, na sua voz falsamente agradável e, quando<br />
espreitei entre duas rochas, propôs-me com um sorriso plácido:<br />
— O meu preço subiu — disse o rei. — Agora, em troca <strong>de</strong> uma morte<br />
fulminante para vós, exijo a princesa Ceinwyn e o Cal<strong>de</strong>irão. Foi o Cal<strong>de</strong>irão<br />
que vieram buscar, não foi?<br />
— É o Cal<strong>de</strong>irão <strong>de</strong> toda a Bretanha, senhor — disse eu.<br />
— Ah, e julgais que eu seria um guardião indigno? — Meneou a cabeça<br />
tristemente. — Lor<strong>de</strong> Derfel, com que facilida<strong>de</strong> insultais um homem.<br />
Como é que seria? A minha cabeça num fosso atolada em excrementos <strong>de</strong><br />
escravos? Que imaginação miserável, a vossa. A minha, temo, parece excessiva<br />
por vezes, inclusive aos meus próprios olhos.<br />
Fez uma pausa e ergueu os olhos para o céu, como se preten<strong>de</strong>sse avaliar<br />
o tempo que lhe restava em termos <strong>de</strong> luz do dia.<br />
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