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Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

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que o rei <strong>de</strong> Gwynedd pu<strong>de</strong>sse alimentar contra Dumnónia. Na maioria<br />

das vezes, as lanças <strong>de</strong> Cadwallon estavam apontadas para norte, na direção<br />

<strong>de</strong> Lleyn.<br />

O rei mandou chamar Byrthig, o Príncipe Her<strong>de</strong>iro, para que este se<br />

juntasse ao banquete e nos falasse sobre Lleyn. O príncipe Byrthig era um<br />

homem baixo e atarracado, marcado por uma cicatriz que ia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a têmpora<br />

esquerda até à barba espessa, passando pelo nariz partido. Tinha apenas<br />

três <strong>de</strong>ntes, o que tornava os seus esforços para mastigar <strong>de</strong>morados e<br />

atabalhoados. Servia-se dos <strong>de</strong>dos para roçar a carne contra o único <strong>de</strong>nte<br />

da frente e <strong>de</strong>ste modo <strong>de</strong>sfazer a comida em lascas que empurrava com<br />

goles <strong>de</strong> hidromel. Toda esta operação laboriosa sujara a sua eriçada barba<br />

negra com o suco da carne e lascas meio mastigadas. Cadwallon, no seu<br />

jeito sombrio, ofereceu-o como marido a Ceinwyn e <strong>de</strong> novo pareceu ter<br />

fi cado insensível perante a recusa gentil <strong>de</strong>la.<br />

Diwrnach, contou o príncipe Byrthig, instalara a sua morada em Boduan,<br />

uma fortaleza situada no extremo oci<strong>de</strong>ntal da península <strong>de</strong> Lleyn. O<br />

rei era um dos Senhores Irlan<strong>de</strong>ses do Outro Lado do Mar, mas o seu grupo<br />

<strong>de</strong> guerreiros, ao contrário do <strong>de</strong> Oengus <strong>de</strong> Demétia, não era composto<br />

por homens oriundos <strong>de</strong> uma única tribo irlan<strong>de</strong>sa. Era, sim, um conjunto<br />

<strong>de</strong> fugitivos saídos <strong>de</strong> todas as tribos.<br />

— Ele acolhe todos aqueles que atravessam as águas, e quanto mais<br />

sanguinários forem, melhor — disse-nos Byrthig. — Os Irlan<strong>de</strong>ses servem-se<br />

<strong>de</strong>le para se livrarem dos seus fora-da-lei e nos últimos tempos o<br />

seu número tem aumentado.<br />

— Cristãos — resmungou Cadwallon, numa breve explicação, e <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong>u uma cuspi<strong>de</strong>la.<br />

— Lleyn é cristã? — perguntei eu, surpreendido.<br />

— Não — disparou Cadwallon, como se eu já <strong>de</strong>vesse saber a resposta<br />

à minha pergunta. — Mas a Irlanda está a vergar-se ao Deus cristão. A<br />

vergar-se em rebanho, e aqueles que não conseguem suportar esse Deus fogem<br />

para Lleyn. — Tirou a lasca <strong>de</strong> um osso da boca e inspecionou-a com<br />

uma expressão sisuda. — Em breve teremos <strong>de</strong> os combater — acrescentou.<br />

— As tropas <strong>de</strong> Diwrnach estão a crescer? — perguntou Merlim.<br />

— É o que nos dizem, embora ouçamos pouca coisa — replicou Cadwallon.<br />

Olhou para o teto no momento em que o calor que enchia o salão<br />

<strong>de</strong>rretia uma porção da neve que cobria o telhado inclinado. Ouviu-se um<br />

ruído áspero e prolongado seguido <strong>de</strong> um estalido suave quando a massa<br />

<strong>de</strong> gelo <strong>de</strong>slizou pela cobertura <strong>de</strong> colmo.<br />

— Diwrnach — explicou Byrthig e a sua voz soava sibilina <strong>de</strong>vido aos<br />

<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>teriorados — quer apenas que o <strong>de</strong>ixem em paz. Se não o incomo-<br />

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