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Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

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— Estamos também no meu território, Lor<strong>de</strong> Derfel Cadarn — ripostou<br />

ele — e, segundo creio, todos os estranhos <strong>de</strong>veriam procurar obter<br />

a minha autorização antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>fecar nas minhas terras ou mijar para as<br />

minhas pare<strong>de</strong>s.<br />

— Se vos ofen<strong>de</strong>mos, senhor — disse eu, — pedimos-vos perdão.<br />

— É <strong>de</strong>masiado tar<strong>de</strong> para isso — retorquiu ele, suavemente. — Estais<br />

aqui agora, Lor<strong>de</strong> Derfel, e eu consigo sentir o cheiro dos vossos excrementos.<br />

Tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais. Que vou então fazer convosco? — Falava num tom <strong>de</strong><br />

voz baixo, quase gentil, sugerindo que ali estava um homem que facilmente<br />

veria a razão. — Que vou então fazer convosco? — perguntou <strong>de</strong> novo, e<br />

eu nada disse.<br />

O círculo <strong>de</strong> cavaleiros negros permanecia imóvel, o céu apresentava-se<br />

carregado <strong>de</strong> nuvens e os gemidos <strong>de</strong> Ceinwyn tinham-se transformado<br />

em queixumes breves. O rei ergueu o escudo, não num gesto <strong>de</strong> ameaça<br />

mas sim porque o seu peso assentava <strong>de</strong>sconfortavelmente na sua anca<br />

e eu vi, horrorizado, que a pele <strong>de</strong> um braço e uma mão humanos pendia<br />

do rebordo inferior. O vento agitava os <strong>de</strong>dos gordos da mão. Diwrnach viu<br />

o meu horror e sorriu.<br />

— Era minha sobrinha — disse e <strong>de</strong>pois olhou para além <strong>de</strong> mim e<br />

outro sorriso lento iluminou o seu rosto. — A raposa saiu da toca, Lor<strong>de</strong><br />

Derfel — disse ele.<br />

Virei-me e vi que Ceinwyn tinha saído <strong>de</strong> <strong>de</strong>baixo da tenda. Despira as<br />

peles <strong>de</strong> lobo e usava o vestido branco que exibira na sua festa <strong>de</strong> noivado, a<br />

bainha ainda manchada pela lama em que ela mergulhara o tecido <strong>de</strong> linho<br />

no momento da fuga <strong>de</strong> Caer Sws. Estava <strong>de</strong>scalça, tinham-lhe soltado os<br />

cabelos dourados e aos meus olhos parecia estar imersa num transe.<br />

— A princesa Ceinwyn, julgo — disse Diwrnach.<br />

— Exatamente, senhor.<br />

— É ainda uma donzela, segundo julgo saber? — perguntou o rei.<br />

Não respondi. Diwrnach inclinou-se para a frente para abanar as orelhas<br />

do cavalo afetuosamente.<br />

— Teria sido <strong>de</strong>licado da parte <strong>de</strong>la ter vindo cumprimentar-me quando<br />

entrou no meu país, não achais?<br />

— Também ela tem as suas orações para fazer, senhor.<br />

— Nesse caso esperemos que elas produzam resultados. — Riu. — Entregai-ma,<br />

Lor<strong>de</strong> Derfel, ou caso contrário sofrereis a mais lenta das mortes.<br />

Tenho homens que conseguem arrancar a pele a um animal centímetro<br />

a centímetro até ele não ser mais do que uma amálgama <strong>de</strong> carne viva e<br />

sangue, conseguindo no entanto manter-se <strong>de</strong> pé. Andar, até! — Afagou<br />

o pescoço do cavalo com uma mão enluvada <strong>de</strong> negro e <strong>de</strong>pois voltou a<br />

sorrir-me. — Já sufoquei homens no seu próprio excremento, Lor<strong>de</strong> Derfel,<br />

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