Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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— Quanta estupi<strong>de</strong>z! — Deixou cair as mãos e abriu os olhos. — Eu<br />
acredito nos Deuses, Derfel, mas será que os Deuses acreditam na Bretanha?<br />
Esta já não é a antiga Bretanha — disse ele com veemência. — É<br />
provável que em tempos tivéssemos sido um único povo <strong>de</strong> um só sangue<br />
e uma só carne, mas hoje? Os Romanos trouxeram homens <strong>de</strong> todos os<br />
cantos do mundo! Sarmáticos, Líbios, Gauleses, Númidas, Gregos! O sangue<br />
<strong>de</strong>les misturou-se com o nosso, da mesma forma que este fervilha <strong>de</strong><br />
sangue romano e se mistura agora com sangue saxão. Somos o que somos,<br />
Derfel, e não aquilo que fomos outrora. Hoje em dia existe uma centena <strong>de</strong><br />
Deuses e já não apenas os velhos Deuses; não po<strong>de</strong>mos inverter o curso dos<br />
anos, mesmo que o Cal<strong>de</strong>irão ou todos os Tesouros da Bretanha estejam<br />
em nosso po<strong>de</strong>r.<br />
— Merlim não é <strong>de</strong>ssa opinião.<br />
— E Merlim obrigar-me-ia a lutar contra os Cristãos apenas para que<br />
os Deuses <strong>de</strong>le possam prevalecer? Não, não o farei, Derfel. — Falava com<br />
raiva. — Po<strong>de</strong>s procurar o teu Cal<strong>de</strong>irão imaginário, mas não julgues que<br />
irei fazer o jogo <strong>de</strong> Merlim perseguindo os Cristãos.<br />
— Merlim — disse eu, na <strong>de</strong>fensiva — <strong>de</strong>ixará o <strong>de</strong>stino dos Deuses<br />
nas mãos dos Deuses.<br />
— E que outra coisa somos nós senão os instrumentos dos Deuses?<br />
— perguntou Artur. — Não vou lutar contra outros bretões só porque eles<br />
adoram outro Deus. Nem tu, Derfel, enquanto o teu juramento se mantiver<br />
válido.<br />
— Não, senhor.<br />
Ele soltou um suspiro.<br />
— O<strong>de</strong>io todo este rancor em torno dos Deuses. Mas Guinevere não<br />
se cansa <strong>de</strong> me dizer que sou cego em relação aos Deuses. Segundo ela, é o<br />
meu único <strong>de</strong>feito. — Sorriu. — Se estás ligado a Merlim por um juramento,<br />
Derfel, então tens <strong>de</strong> o acompanhar. Para on<strong>de</strong> te leva ele?<br />
— Para Ynys Mon, senhor.<br />
Fitou-me em silêncio durante alguns segundos e <strong>de</strong>pois estremeceu.<br />
— Vais para Lleyn? — perguntou, incrédulo. — Ninguém sai vivo <strong>de</strong><br />
Lleyn.<br />
— Eu sairei — vangloriei-me eu.<br />
— Faz por isso, Derfel, faz por isso. — Parecia melancólico. — Preciso<br />
que me aju<strong>de</strong>s a <strong>de</strong>rrotar os Saxões. Depois disso, talvez possas regressar a<br />
Dumnónia. Guinevere não é mulher que guar<strong>de</strong> ressentimentos.<br />
Tinha dúvidas quanto a isso, mas nada disse.<br />
— Mandarei chamar-te na primavera, então — prosseguiu Artur, —<br />
e rezo para que sobrevivas a Lleyn. — Enfi ou um dos braços no meu e<br />
acompanhou-me <strong>de</strong> regresso à casa. — E se alguém te perguntar alguma<br />
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