Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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ao nível das vigas do teto. — Liberto-vos a ambos dos vossos juramentos<br />
— disse num tom muito formal, — mas rezo para que mesmo assim me<br />
acompanhem. Será, no entanto, uma provação mais dura do que imaginam,<br />
e mais dura ainda do que fazem prever os vossos mais terríveis pesa<strong>de</strong>los,<br />
pois eu ofereci o sacrifício da minha própria vida em troca do Cal<strong>de</strong>irão.<br />
Baixou os olhos para nós e o seu rosto espelhava uma tristeza imensa.<br />
— No dia em que pisarmos a Estrada Sombria — disse-nos, — começarei<br />
a morrer, pois esse é o meu juramento, e não posso <strong>de</strong> modo nenhum<br />
garantir que este juramento será coroado <strong>de</strong> êxito. Se esta <strong>de</strong>manda fracassar,<br />
morrerei e vocês fi carão sozinhos em Lleyn.<br />
— Teremos Nimue — disse Ceinwyn.<br />
— E ela será tudo o que terão — disse Merlim, com uma expressão<br />
carregada, virando-se em seguida para a porta. Nimue seguiu-o.<br />
Ficámos sentados em silêncio. Acrescentei mais um toro ao fogo. Estava<br />
ver<strong>de</strong>, pois toda a nossa lenha era composta <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ainda não amadurecida<br />
e cortada recentemente, razão pela qual ardia tão mal. Vi o fumo<br />
engrossar e rodopiar na direção do travejamento do teto e <strong>de</strong>pois segurei<br />
na mão <strong>de</strong> Ceinwyn.<br />
— Queres morrer em Lleyn? — ralhei-lhe.<br />
— Não — respon<strong>de</strong>u ela, — mas quero ver o Cal<strong>de</strong>irão.<br />
Olhei fi xamente para o fogo.<br />
— Ele enchê-lo-á com sangue — disse, baixinho.<br />
Os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> Ceinwyn acariciaram os meus.<br />
— Quando era criança — disse, — ouvi todas as histórias sobre a Bretanha,<br />
como os Deuses viviam entre nós e toda a gente se sentia feliz. Não<br />
havia fome nesses tempos, nem pestes, só nós, os Deuses e paz. Quero essa<br />
Bretanha <strong>de</strong> volta, Derfel.<br />
— Artur diz que nunca po<strong>de</strong>remos tê-la <strong>de</strong> volta. Somos aquilo que<br />
somos e não o que outrora fomos.<br />
— E em qual dos dois acreditas tu, então — perguntou ela, — em Artur<br />
ou em Merlim?<br />
Meditei durante muito tempo.<br />
— Em Merlim — admiti, fi nalmente, talvez porque quisesse acreditar<br />
na sua Bretanha, on<strong>de</strong> todos os nossos sofrimentos <strong>de</strong>sapareceriam por artes<br />
mágicas. Gostava igualmente da i<strong>de</strong>ia que Artur fazia da Bretanha, mas<br />
esta implicava guerra, sacrifício e a fé em que todos os homens se portariam<br />
bem se fossem bem tratados. O sonho <strong>de</strong> Merlim exigia menos e prometia<br />
mais.<br />
— Nesse caso acompanharemos Merlim — disse Ceinwyn. Hesitou,<br />
fi tando-me. — Estás preocupado com a profecia <strong>de</strong> Morgana? — perguntou.<br />
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