Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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<strong>de</strong> ouro enquanto a esquerda ostentava os baços anéis <strong>de</strong> guerreiro, nenhum<br />
dos quais, concluí irritado, ganho em batalha. Em torno do pescoço<br />
usava uma pesada corrente <strong>de</strong> ouro rematada por pedras reluzentes e, sobre<br />
o peito, em honra <strong>de</strong> Ceinwyn, exibia o símbolo da família real a que<br />
ela pertencia: uma águia <strong>de</strong> asas abertas. Não trazia armas, já que homem<br />
algum fora autorizado a entrar no palácio do rei acompanhado <strong>de</strong> uma<br />
só espada que fosse, mas usava o cinto da espada com que Artur o presenteara.<br />
Agra<strong>de</strong>ceu a aclamação erguendo uma das mãos, beijou a mãe,<br />
cumprimentou Guinevere com um beijo na mão, fez uma vénia a Helledd<br />
e sentou-se.<br />
Um dos assentos continuava vazio. Uma harpista tinha começado a<br />
tocar, mas as notas clangorosas que produzia mal se faziam ouvir sobre os<br />
ruídos das conversas. O cheiro a carne assada <strong>de</strong>slizou suavemente para<br />
o interior do salão, on<strong>de</strong> jovens escravas distribuíam jarros <strong>de</strong> hidromel.<br />
Iorweth, o druida, percorria o salão para cima e para baixo em gran<strong>de</strong><br />
azáfama, abrindo um corredor entre os homens sentados no chão coberto<br />
<strong>de</strong> juncos. Afastou os convivas para os lados, saudou o rei com uma vénia<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter aberto o corredor e pediu silêncio com um movimento do<br />
bastão.<br />
Uma gran<strong>de</strong> saudação irrompeu no seio da multidão que se encontrava<br />
no exterior.<br />
Os convidados <strong>de</strong> honra tinham entrado no salão pela retaguarda, subindo<br />
para o estrado vindos diretamente das sombras da noite. Ceinwyn,<br />
no entanto, faria a sua entrada através da enorme porta situada em frente<br />
ao salão e para chegar a essa porta, teria <strong>de</strong> caminhar por entre a multidão<br />
<strong>de</strong> convidados que se apinhavam no recinto iluminado por fogueiras. A<br />
aclamação que tínhamos acabado <strong>de</strong> ouvir era o som dos aplausos <strong>de</strong>sses<br />
convidados ao vê-la sair dos aposentos das mulheres, enquanto no interior<br />
do palácio do rei nós aguardávamos a sua entrada <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> um silêncio<br />
expectante. Até a harpista afastou os seus <strong>de</strong>dos das cordas e dirigiu o olhar<br />
para a porta.<br />
Primeiro entrou uma criança. Era uma menina vestida <strong>de</strong> linho branco<br />
que caminhava virada <strong>de</strong> costas ao longo da ala aberta por Iorweth para<br />
permitir a passagem <strong>de</strong> Ceinwyn. A criança ia espalhando pétalas secas <strong>de</strong><br />
fl ores primaveris sobre os juncos recentemente dispostos sobre o pavimento.<br />
Ninguém falava. Todos os olhares estavam fi xos na porta à exceção do<br />
meu, que observava o estrado. Lancelote fi tava a porta, o rosto iluminado<br />
por um meio sorriso. Cuneglas não parava <strong>de</strong> secar as lágrimas que teimavam<br />
em assomar-lhe aos olhos, tão gran<strong>de</strong> era a sua felicida<strong>de</strong>. Artur, o<br />
autor da paz, estava radiante. Só Guinevere não sorria. Exibia apenas uma<br />
expressão <strong>de</strong> triunfo. Em tempos fora objeto <strong>de</strong> escárnio neste mesmo cas-<br />
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