Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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paralela à primeira — e aqui a Silúria, e este osso — ergueu o último — representa<br />
a aliança entre todos estes reinos. Pronto.<br />
Inclinou-se para trás e fez um gesto na direção da precária torre <strong>de</strong><br />
ossos que se erguia no centro da pedra.<br />
— Aqui tens, Derfel, o cuidadoso plano <strong>de</strong> Artur, embora te diga, te<br />
assevere, que sem os Tesouros, o plano falhará.<br />
Calou-se. Fitei os nove ossos. Todos eles, à exceção do misterioso<br />
terceiro osso, ainda tinham lascas <strong>de</strong> carne, tendões e cartilagem. Apenas<br />
aquele terceiro osso fora completamente chupado. Toquei-o muito ao <strong>de</strong><br />
leve com o <strong>de</strong>do, tomando precauções para não perturbar o frágil equilíbrio<br />
da atarracada torre.<br />
— E o terceiro osso, o que é? — perguntei.<br />
Merlim sorriu.<br />
— O terceiro osso, Derfel — disse ele, — é o casamento entre Lancelote<br />
e Ceinwyn. — Deteve-se. — Tira-o.<br />
Não me mexi. Tirar o terceiro osso signifi caria fazer <strong>de</strong>smoronar a frágil<br />
re<strong>de</strong> <strong>de</strong> alianças <strong>de</strong> Artur, a sua melhor, a sua única, para ser mais exato,<br />
esperança <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrotar os Saxões.<br />
Merlim riu da minha relutância, em seguida apo<strong>de</strong>rou-se do terceiro<br />
osso mas não o soltou.<br />
— Os Deuses <strong>de</strong>testam a or<strong>de</strong>m — disse com rispi<strong>de</strong>z. — A or<strong>de</strong>m,<br />
Derfel, é o que <strong>de</strong>strói os Deuses, por isso eles têm <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir a or<strong>de</strong>m.<br />
— Puxou o osso para fora e <strong>de</strong> imediato a pilha <strong>de</strong> ossos se <strong>de</strong>smoronou.<br />
— Artur tem <strong>de</strong> reintegrar os Deuses, Derfel — disse Merlim, — se quiser<br />
esten<strong>de</strong>r a paz a toda a Bretanha. — Esten<strong>de</strong>u-me o osso. — Leva-o.<br />
Não me mexi.<br />
— É apenas uma pilha <strong>de</strong> ossos — disse Merlim, — mas este osso,<br />
Derfel, é o <strong>de</strong>sejo da tua alma. — Mantinha o osso limpo estendido na<br />
minha direção. — Este osso representa o casamento <strong>de</strong> Lancelote com<br />
Ceinwyn. Parte este osso em dois, Derfel, e o casamento nunca se realizará.<br />
Mas <strong>de</strong>ixa este osso intacto, Derfel, e o teu inimigo levará a tua mulher<br />
para a sua cama e tratá-la-á como um cão. — Tornou a empurrar o osso na<br />
minha direção e, mais uma vez, não lhe toquei. — Julgas que o teu amor<br />
por Ceinwyn não está estampado no teu rosto? — perguntou Merlim com<br />
ironia. — Leva-o! Porque eu, Merlim <strong>de</strong> Avalon, concedo-te a ti, Derfel, o<br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ste osso.<br />
Peguei nele, que os Deuses me perdoem, mas peguei nele. Que outra<br />
coisa po<strong>de</strong>ria ter feito? Estava apaixonado e peguei naquele osso limpo e<br />
coloquei-o na minha bolsa.<br />
— Não te servirá <strong>de</strong> nada — Merlim troçou <strong>de</strong> mim, — a não ser que<br />
o quebres.<br />
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