Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
— É vosso, então, meu Rei. — Graciosamente, Artur ce<strong>de</strong>u a Lancelote<br />
a honra da matança.<br />
— Ofereço-vos, senhor — respon<strong>de</strong>u Lancelote. Ceinwyn estava <strong>de</strong><br />
pé atrás <strong>de</strong>le, mor<strong>de</strong>ndo o lábio inferior <strong>de</strong> olhos muito abertos. Pegara na<br />
lança sobressalente que pertencia a Bors, não porque tivesse esperanças <strong>de</strong><br />
se servir <strong>de</strong>la mas para o aliviar daquele fardo, e agora segurava a arma<br />
nervosamente.<br />
— Atiça-lhe os cães! — Guinevere juntou-se a nós. Os seus olhos<br />
brilhavam e o seu rosto estava animado. Julgo que ela se sentia entediada<br />
<strong>de</strong>ntro dos gran<strong>de</strong>s palácios <strong>de</strong> Dumnónia e o terreno <strong>de</strong> caça proporcionava-lhe<br />
a excitação por que tanto ansiava.<br />
— Vais per<strong>de</strong>r os dois cães — advertiu Artur. — Este porco sabe lutar.<br />
— Avançou com cuidado, avaliando qual seria a melhor forma <strong>de</strong> provocar<br />
o animal. Em seguida <strong>de</strong>u alguns passos enérgicos em frente e bateu<br />
vigorosamente nos arbustos com a lança, como se assim quisesse oferecer<br />
ao javali uma porta <strong>de</strong> saída do seu refúgio. A besta rugiu, mas não se mexeu,<br />
nem mesmo quando a fl amejante lâmina da lança lhe rasou o focinho,<br />
passando a escassos centímetros <strong>de</strong> distância. A porca estava atrás do javali,<br />
observando-nos.<br />
— Já fez isto antes — disse Artur, feliz.<br />
— Deixai-me apanhá-lo, senhor — disse eu, subitamente ansioso.<br />
— Achas que perdi a habilida<strong>de</strong>? — perguntou Artur com um sorriso.<br />
Agitou <strong>de</strong> novo os arbustos, mas as roseiras bravas não baixavam e o javali<br />
não se movia. — Que os Deuses te abençoem — disse Artur dirigindo-se<br />
ao animal, após o que gritou um <strong>de</strong>safi o e mergulhou num emaranhado <strong>de</strong><br />
espinhos. Saltou para um dos lados do trilho que tão cruamente abrira e, ao<br />
fi ncar os pés no chão, atirou a lança para a frente, apontando a sua lâmina<br />
cintilante para o fl anco esquerdo do javali.<br />
A cabeça do javali pareceu contrair-se. Foi uma contração ligeira, mas<br />
sufi ciente para <strong>de</strong>sviar a lâmina da lança <strong>de</strong> um dos <strong>de</strong>ntes, rasgando a pele<br />
do animal e abrindo uma ferida inofensiva ao longo <strong>de</strong> um dos fl ancos. Em<br />
seguida, atacou. Um bom javali po<strong>de</strong> passar da imobilida<strong>de</strong> total à loucura<br />
instantânea, cabeça apontada para o chão e <strong>de</strong>ntes preparados para investir<br />
em sentido ascen<strong>de</strong>nte. O animal encontrava-se já fora do alcance da ponta<br />
da lança <strong>de</strong> Artur no momento da investida, fazendo com que ele fi casse<br />
preso no silvado.<br />
Dei um grito no intuito <strong>de</strong> distrair o javali e enterrei a minha própria<br />
lança na sua barriga. Artur estava caído no chão, <strong>de</strong> costas, a lança caída e<br />
o javali sobre o seu corpo. Os cães uivaram e Guinevere gritou por ajuda.<br />
A minha lança penetrara fundo na barriga do animal e o seu sangue jorrava<br />
para as minhas mãos à medida que eu levantava a lança como se fosse<br />
60