Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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— Fica diferente — conce<strong>de</strong>u Cavan <strong>de</strong> má vonta<strong>de</strong> enquanto admirávamos<br />
os escudos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pintados.<br />
— Está esplêndido — disse eu, e nessa noite, quando jantava entre o<br />
círculo <strong>de</strong> guerreiros que comiam <strong>de</strong>itados no chão do palácio, Issa estava<br />
perfi lado atrás <strong>de</strong> mim como meu escu<strong>de</strong>iro. O verniz ainda estava húmido,<br />
mas isso só fazia com que a estrela parecesse mais brilhante. Scarach<br />
serviu-me. Era uma refeição pobre composta por papas <strong>de</strong> cevada, mas as<br />
cozinhas <strong>de</strong> Caer Sws não estavam em condições <strong>de</strong> fornecer uma refeição<br />
mais requintada, pois estavam atarefadas com a preparação da gran<strong>de</strong> festa<br />
da noite seguinte. Na verda<strong>de</strong>, todo o palácio estava ocupado com os preparativos<br />
para esse acontecimento. O salão tinha sido <strong>de</strong>corado com ramos<br />
<strong>de</strong> faia vermelhos-escuros, o chão tinha sido varrido e coberto <strong>de</strong> junco<br />
fresco e dos aposentos das mulheres chegavam relatos sobre os vestidos que<br />
estavam a ser confecionados e <strong>de</strong>licadamente bordados. Pelo menos quatrocentos<br />
guerreiros estavam agora hospedados em Caer Sws, instalados na<br />
sua maioria em abrigos improvisados nos campos que fi cavam do lado <strong>de</strong><br />
fora das muralhas, enquanto no interior da fortaleza se concentrava uma<br />
multidão formada pelas esposas dos guerreiros, crianças e cães. Meta<strong>de</strong> dos<br />
homens pertenciam a Cuneglas e a outra meta<strong>de</strong> eram dumnonianos. No<br />
entanto, apesar da guerra recente, não se registavam distúrbios, nem sequer<br />
quando se espalhou a notícia da queda <strong>de</strong> Ratae que caíra nas mãos da horda<br />
saxónica <strong>de</strong> Aelle graças à traição <strong>de</strong> Artur. Cuneglas <strong>de</strong>via ter <strong>de</strong>sconfi<br />
ado que Artur comprara a paz a Aelle por esse meio e aceitou o juramento<br />
<strong>de</strong> Artur, quando este lhe prometeu que os homens <strong>de</strong> Dumnónia vingariam<br />
os mortos <strong>de</strong> Powys que jaziam entre as cinzas da fortaleza capturada.<br />
Não via Merlim ou Nimue <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a noite em que fora ao Dolforwyn.<br />
Merlim <strong>de</strong>ixara Caer Sws, mas Nimue, segundo me constara, encontrava-se<br />
ainda no interior da fortaleza e estava escondida nos aposentos das mulheres<br />
on<strong>de</strong>, a acreditar nos rumores que corriam, passava muito tempo na<br />
companhia da princesa Ceinwyn. Isso parecia-me pouco provável, já que<br />
Nimue e Ceinwyn eram muito diferentes uma da outra. Nimue era alguns<br />
anos mais velha do que Ceinwyn. Era uma mulher morena e ar<strong>de</strong>nte, vacilando<br />
eternamente na estreita fronteira que separa a loucura da raiva, enquanto<br />
Ceinwyn era loura, suave e, como me dissera Merlim, extremamente<br />
convencional. Não conseguia imaginar que alguma <strong>de</strong>las tivesse muito<br />
para dizer à outra, por isso concluí que os boatos eram falsos e que Nimue<br />
estaria com Merlim que, julgava eu, partira à procura <strong>de</strong> homens dispostos<br />
a carregarem as suas espadas até aos terríveis domínios <strong>de</strong> Diwrnach, em<br />
busca do Cal<strong>de</strong>irão.<br />
E eu? Juntar-me-ia a ele? Na manhã do noivado <strong>de</strong> Ceinwyn, encaminhei-me<br />
para norte, na direção dos gran<strong>de</strong>s carvalhos que circundavam<br />
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