Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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o imenso vale <strong>de</strong> Caer Sws. Procurava um local em particular e Cuneglas<br />
dissera-me on<strong>de</strong> podia encontrá-lo. Issa, o meu fi el Issa, acompanhou-me,<br />
embora não fi zesse a mais pequena i<strong>de</strong>ia do motivo que nos levava àqueles<br />
bosques <strong>de</strong>nsos e escuros.<br />
Esta terra, o coração <strong>de</strong> Powys, fi cara quase incólume à passagem dos<br />
Romanos. Estes tinham construído fortes na região, como Caer Sws, e tinham<br />
<strong>de</strong>ixado algumas estradas que corriam ao longo dos vales ribeirinhos,<br />
mas não se viam gran<strong>de</strong>s villas ou cida<strong>de</strong>s como as que existiam em<br />
Dumnónia e lhe conferiam o brilho <strong>de</strong> uma civilização perdida. Aqui, no<br />
coração dos domínios <strong>de</strong> Cuneglas, também não havia muitos cristãos. O<br />
culto dos antigos Deuses tinha sobrevivido em Powys sem o rancor que<br />
enquinava a religião no reino <strong>de</strong> Mordred, on<strong>de</strong> Cristãos e Pagãos rivalizavam<br />
pela obtenção <strong>de</strong> favores reais e pelo direito <strong>de</strong> erigir os seus santuários<br />
em locais sagrados. Nenhum altar romano havia substituído os bosques<br />
dos druidas <strong>de</strong> Powys e nenhuma igreja cristã se erguia sobre os seus poços<br />
sagrados. Os Romanos tinham <strong>de</strong>molido alguns santuários, mas muitos tinham<br />
sido preservados e era para um <strong>de</strong>stes locais sagrados antigos que<br />
Issa e eu nos dirigíamos sob a penumbra folhosa da fl oresta batida pelo Sol<br />
do meio-dia.<br />
Era um santuário druida, um pequeno bosque <strong>de</strong> carvalhos perdido<br />
nos confi ns <strong>de</strong> uma fl oresta <strong>de</strong>nsa. A folhagem suspensa sobre o santuário<br />
ainda não se tingira <strong>de</strong> bronze, mas isso não tardaria a suce<strong>de</strong>r e então as<br />
folhas tombariam sobre o baixo muro <strong>de</strong> pedra disposto em semicírculo<br />
no centro do bosque. Dois nichos tinham sido escavados na pare<strong>de</strong> e neles<br />
tinham sido colocados dois crânios humanos. Outrora, eram muitos os locais<br />
como este em toda a Dumnónia e muitos mais tinham sido reconstruídos<br />
<strong>de</strong>pois da partida dos Romanos. Demasiadas vezes, porém, os Cristãos<br />
apareciam e partiam os crânios, <strong>de</strong>struíam os muros feitos <strong>de</strong> pedras secas<br />
e cortavam os carvalhos. No entanto, este santuário <strong>de</strong> Powys po<strong>de</strong>ria continuar<br />
perdido neste <strong>de</strong>nso bosque durante um milhar <strong>de</strong> anos. Pequenos<br />
fi os <strong>de</strong> lã tinham sido enfi ados entre as pedras, assinalando assim as orações<br />
oferecidas pelos crentes neste bosque.<br />
O silêncio pairava sobre os carvalhos. Era um silêncio pesado. Issa<br />
observava-me, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o arvoredo, enquanto eu caminhava até ao centro do<br />
semicírculo, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sapertei o pesado cinto <strong>de</strong> Hywelbane.<br />
Depus a espada sobre a pedra lisa que assinalava o centro do santuário<br />
e <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da minha bolsa tirei o osso branco que me conferia po<strong>de</strong>res<br />
sobre o casamento <strong>de</strong> Lancelote. Coloquei-o ao lado da espada. Por último,<br />
coloquei sobre a pedra o pequeno pregador dourado que Ceinwyn me <strong>de</strong>ra<br />
muitos anos antes. Estendi-me sobre a cama <strong>de</strong> folhas.<br />
Dormi, na esperança <strong>de</strong> ter um sonho que me dissesse o que havia<br />
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