13.04.2013 Views

Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sumptuosos arabescos em ouro. Três aros dourados estavam fi xos no rebordo<br />

para que pu<strong>de</strong>sse ser pendurado sobre o fogo. Era o maior Tesouro da<br />

Bretanha e nós arrancámo-lo ao túmulo on<strong>de</strong> jazia; podia ver como o ouro<br />

que o <strong>de</strong>corava fora trabalhado por forma a retratar fi guras <strong>de</strong> guerreiros,<br />

Deuses e veados. Todavia, não tínhamos tempo para admirar o Cal<strong>de</strong>irão,<br />

pois, frenética, Nimue espalhou as últimas pedras que estavam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le<br />

e tornou a colocá-lo no buraco antes <strong>de</strong> rasgar as peles negras que cobriam<br />

o corpo <strong>de</strong> Merlim.<br />

— Ajuda-me! — gritou e, juntos, fi zemos rolar o velho para <strong>de</strong>ntro do<br />

poço e enfi ámo-lo nas entranhas da gran<strong>de</strong> taça <strong>de</strong> prata. Nimue aconchegou<br />

as pernas <strong>de</strong>le e cobriu-o com uma capa. Foi só nesse momento que<br />

ela se recostou nos pedregulhos. Estava um frio <strong>de</strong> rachar, mas o rosto <strong>de</strong>la<br />

brilhava <strong>de</strong> suor.<br />

— Está morto — disse Ceinwyn numa voz sumida e assustada.<br />

— Não — insistiu Nimue, cansada, — não está, não.<br />

— Estava frio! — protestou Ceinwyn. — Estava frio e não se conseguia<br />

ouvir a sua respiração. — Colou-se a mim e começou a chorar baixinho. —<br />

Está morto.<br />

— Vive — disse Nimue rispidamente.<br />

Tinha recomeçado a chover. Era uma chuva miudinha e batida pelo<br />

vento, que polia as pedras e cobria <strong>de</strong> gotas as lâminas ensanguentadas das<br />

nossas espadas. Merlim jazia, tapado e inerte na cavida<strong>de</strong> do Cal<strong>de</strong>irão,<br />

os meus homens vigiavam o inimigo no topo das pedras cinzentas, os cavaleiros<br />

negros cercavam-nos e eu perguntava a mim mesmo que tipo <strong>de</strong><br />

loucura nos trouxera até àquele lugar miserável, no extremo mais frio da<br />

Bretanha.<br />

— Que fazemos agora? — perguntou Galaad.<br />

— Esperamos — ripostou Nimue, — esperamos, apenas.<br />

Nunca esquecerei o frio que fazia naquela noite. A geada formara cristais<br />

sobre as rochas e tocar numa lâmina <strong>de</strong> aço signifi cava <strong>de</strong>ixar uma lasca<br />

<strong>de</strong> pele colada ao metal. Estava um frio medonho. De madrugada, a chuva<br />

passou a neve, <strong>de</strong>pois parou e <strong>de</strong>pois do nevão o ventou passou a soprar<br />

mais baixo e as nuvens foram arrastadas para leste, <strong>de</strong>ixando a <strong>de</strong>scoberto<br />

uma enorme Lua cheia, elevando-se no céu. Era uma Lua cheia <strong>de</strong> portento;<br />

uma bola prateada inchada, toldada pelos refl exos <strong>de</strong> nuvens distantes<br />

suspensas sobre um oceano repleto <strong>de</strong> ondas negras e prateadas. As estrelas<br />

nunca me tinham parecido tão brilhantes. Os contornos enormes do carro<br />

<strong>de</strong> Bel refulgiam sobre as nossas cabeças, em eterna perseguição da constelação<br />

a que chamávamos a truta. Os Deuses viviam entre as estrelas e eu<br />

126

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!