13.04.2013 Views

Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

anca e fresca e os pesa<strong>de</strong>los esfumaram-se para serem substituídos pela<br />

visão <strong>de</strong> um longo corpo branco e <strong>de</strong>snudado, <strong>de</strong> coxas <strong>de</strong>lgadas e seios<br />

pequenos.<br />

— Sonha, Derfel — Nimue tranquilizou-me, afagando-me os cabelos<br />

com as duas mãos, — sonha, meu amor, sonha.<br />

Eu chorava <strong>de</strong>scontroladamente. Era um guerreiro, um Senhor <strong>de</strong><br />

Dumnónia, amado por Artur e a sua dívida para comigo <strong>de</strong>pois da última<br />

batalha era <strong>de</strong> tal modo gran<strong>de</strong> que ele me agraciaria com terras e riquezas<br />

com que eu jamais sonhara. E, no entanto, naquele momento chorava como<br />

uma criança órfã. O <strong>de</strong>sejo da minha alma era Ceinwyn, mas Ceinwyn estava<br />

a <strong>de</strong>ixar-se fascinar por Lancelote e eu julgava que nunca mais po<strong>de</strong>ria<br />

conhecer a felicida<strong>de</strong>.<br />

— Sonha, meu amor — cantarolava Nimue, e <strong>de</strong>ve ter estendido uma<br />

capa negra sobre as cabeças <strong>de</strong> ambos, pois subitamente a noite cinzenta<br />

<strong>de</strong>sapareceu e eu fi quei imerso numa escuridão silenciosa com os braços<br />

<strong>de</strong>la a ro<strong>de</strong>ar-me o pescoço e o seu rosto colado ao meu. Ajoelhámos, as<br />

nossas faces sempre juntas, as minhas mãos estremecendo espasmódica e<br />

<strong>de</strong>scontroladamente sobre a pele fresca das suas coxas <strong>de</strong>snudadas. Deixei<br />

que o peso do meu corpo contorcido encontrasse apoio nos ombros<br />

magros <strong>de</strong>la e, aí, entre os seus braços, as lágrimas cessaram, os espasmos<br />

serenaram e eu fi quei subitamente calmo. Nenhum acesso <strong>de</strong> vómito me<br />

apertava a garganta, as dores nas pernas tinham <strong>de</strong>saparecido e eu senti-me<br />

quente, tão quente que continuei a transpirar. Permaneci imóvel, não queria<br />

mexer-me, mas <strong>de</strong>ixar apenas que o sonho acontecesse.<br />

Começou por ser um sonho maravilhoso, pois era como se me tivessem<br />

dado as asas <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> águia e eu voava agora muito alto sobre<br />

um país que não conhecia. Então vi que se tratava <strong>de</strong> um país horrível, dilacerado<br />

por abismos profundos e altas montanhas feitas <strong>de</strong> rochedos escarpados,<br />

ao longo dos quais pequenos riachos escorriam em cascata e iam<br />

morrer em lagos negros e turfosos. As montanhas pareciam não ter fi m, ou<br />

refúgio, pois à medida que sobrevoava os seus contornos nas asas do meu<br />

sonho, não via cavalos, nem abrigos, nem campos, nem rebanhos ou manadas,<br />

nem almas, apenas um lobo correndo entre as rochas escarpadas e as<br />

ossadas <strong>de</strong> um veado abandonado numa mata. O céu por cima <strong>de</strong> mim era<br />

tão cinzento como uma espada, as montanhas por baixo tão escuras como<br />

sangue seco e o ar sob as minhas asas frio como um punhal enterrado nas<br />

costelas.<br />

— Sonha, meu amor — murmurava Nimue, e no sonho as minhas<br />

largas asas ajudaram-me a <strong>de</strong>scer o sufi ciente para distinguir uma estrada<br />

serpenteante entre as montanhas escuras. Era uma estrada <strong>de</strong> terra batida,<br />

cortada por rochas, fazendo a ligação entre vales ao longo do seu percurso<br />

47

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!