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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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Uma rachadura nos Pireneus faz com que a Península Ibérica se <strong>de</strong>spren<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> Europa e comece a <strong>de</strong>slizar pelo Oceano Atlântico. É esta a “<strong>em</strong>barcação” que<br />

estabelece no texto a conectivi<strong>da</strong><strong>de</strong> conceitual <strong>de</strong> que fala Matheus 8 e que, no<br />

quadro geral dos el<strong>em</strong>entos cognitivos novos introduzidos pela narrativa, está<br />

absolutamente coerente com a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> que lhe é atribuí<strong>da</strong>.<br />

Ao postular uma teoria <strong>da</strong> referência metafórica, Ricœur analisa a metáfora<br />

como uma estratégia discursiva <strong>de</strong> valor heurístico, isto é, que expressa a<br />

experiência humana sob a forma <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> figura<strong>da</strong>. Segundo o autor 9 :<br />

[...] la métaphore est le processus rhétorique par lequel le discours<br />

libère le pouvoir que certaines fictions comportent <strong>de</strong> redécrire la réalité. 10<br />

Salvador Mosca retoma os estudos nessa área, esclarecendo que as<br />

metáforas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser compreendi<strong>da</strong>s hoje <strong>em</strong> dia como figuras <strong>de</strong> discurso e não<br />

como figuras <strong>de</strong> palavras ou construções. Sobre as figuras <strong>de</strong> retórica, escreve a<br />

autora 11 :<br />

[...] São, portanto, figuras <strong>de</strong> texto, por <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar um papel na<br />

produção geral <strong>de</strong> sentido [...], isto é, participam <strong>de</strong> um procedimento<br />

discursivo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> sentido. A ruptura <strong>da</strong>s regras combinatórias<br />

espera<strong>da</strong>s, criando uma impertinência s<strong>em</strong>ântica, possibilita a produção <strong>de</strong><br />

novos sentidos e outras leituras cria<strong>da</strong>s pelo novo recorte. É o que dá à<br />

figura marg<strong>em</strong> para estabelecer um outro ponto <strong>de</strong> vista sobre o mundo, a<br />

exploração <strong>de</strong> uma outra “perspectiva”, contando com a sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

reorganização cognitiva e sensorial. 12<br />

Desse modo, é possível afirmar que a metáfora central <strong>em</strong> A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>pedra</strong>, uma vez aceita pelo leitor, passa a <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar o papel <strong>de</strong> el<strong>em</strong>ento<br />

8<br />

MATHEUS, Maria Helena Mira et. al. Gramática <strong>da</strong> Língua Portuguesa. Coimbra, Almedina,<br />

1983, p. 204.<br />

9<br />

RICŒUR, Paul. La métaphore vive. Paris, Seuil, 1975, p. 11.<br />

10<br />

Grifo nosso.<br />

11<br />

SALVADOR MOSCA, Linei<strong>de</strong> do Lago (org.). Retóricas <strong>de</strong> ont<strong>em</strong> e <strong>de</strong> hoje. São Paulo,<br />

Humanitas, FFLCH-USP, 1997, p. 38.<br />

12 Grifos e aspas <strong>de</strong> Salvador Mosca.<br />

10

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