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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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4.1 Joana Car<strong>da</strong><br />

Tome-se primeiramente Joana Car<strong>da</strong>, <strong>da</strong> maneira como é <strong>de</strong>scrita por meio<br />

do diálogo entre <strong>José</strong> Anaíço e Joaquim Sassa:<br />

101<br />

[...] foi aí que apareceu a mulher [...] tinha uma história para contar,<br />

vinha <strong>de</strong> pau na mão, trazia uma maleta <strong>de</strong> viag<strong>em</strong>, vestia calças e casaco<br />

azuis, t<strong>em</strong> os cabelos pretos, a pele muito branca, os olhos não sei b<strong>em</strong>, é<br />

difícil dizer [<strong>de</strong>screve <strong>José</strong> Anaíço] Interessantes pormenores para a história<br />

peninsular, só falta dizeres-me que a senhora é bonita [comenta Joaquim<br />

Sassa], É [respon<strong>de</strong> <strong>José</strong> Anaíço] Nova [?] Digamos que sim, que é nova,<br />

<strong>em</strong>bora não seja precisamente uma rapariga [...] que queria a Dona Olhos<br />

Não Sei B<strong>em</strong>, e que pau era esse [?] 230<br />

Os olhos <strong>de</strong> Joana Car<strong>da</strong> são “cor <strong>de</strong> céu novo <strong>de</strong> dia, cor <strong>de</strong> céu novo <strong>de</strong><br />

noite” 231 e o pau é a “vara <strong>de</strong> negrilho”, principal figura a que a personag<strong>em</strong> está<br />

associa<strong>da</strong>. Negrilho é o mesmo que ulmeiro, ou olmo, árvore nativa <strong>da</strong>s regiões<br />

t<strong>em</strong>pera<strong>da</strong>s do h<strong>em</strong>isfério norte, cujas flores, púrpuras ou amarela<strong>da</strong>s, nasc<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

cachos no período anterior ao surgimento <strong>de</strong> novas folhas, elípticas e <strong>de</strong> nervuras<br />

retas. A espécie mais comum na Europa é o Olmo inglês, que atinge até 30 metros<br />

<strong>de</strong> altura. O tronco do olmo, <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira compacta, durável e resistente à umi<strong>da</strong><strong>de</strong>, é<br />

utilizado para a fabricação <strong>de</strong> diversos produtos. Da casca <strong>da</strong> árvore, são<br />

produzidos r<strong>em</strong>édios e tintas.<br />

Mas, voltando à Joana Car<strong>da</strong>, é possível verificar que, sobreposta à “vara <strong>de</strong><br />

negrilho”, há outra figura: “vara <strong>de</strong> condão”. Pergunta o narrador à personag<strong>em</strong>:<br />

condão [?] 232<br />

[...] N<strong>em</strong> lhe passou pela idéia que po<strong>de</strong>ria ser uma varinha <strong>de</strong><br />

Isso mostra que ao percurso figurativo no qual está inserido Joana Car<strong>da</strong><br />

subjaz o t<strong>em</strong>a “magia”. Esta interpretação ganha força quando se constata o que há<br />

<strong>de</strong> intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong> no próprio nome <strong>da</strong> personag<strong>em</strong>: Car<strong>da</strong> é um anagrama <strong>de</strong><br />

230 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p. 122.<br />

231 Ibid<strong>em</strong>, p.114.<br />

232 Ibid<strong>em</strong>, p.8.

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