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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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cultivados, com a sua gente e os seus animais, começou a mover-se, barca<br />

que se afasta do porto e aponta ao mar outra vez <strong>de</strong>sconhecido. 40<br />

É a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> revelação do <strong>de</strong>sconhecido que seduz o sujeito para a<br />

ação. O que se t<strong>em</strong>, portanto, <strong>em</strong> termos s<strong>em</strong>ióticos é a manipulação <strong>em</strong> nível<br />

cognitivo, do tipo positiva, que se dá por meio <strong>da</strong> sedução. Neste caso o <strong>de</strong>stinador-<br />

manipulador manifesta um juízo positivo sobre a competência do manipulado, o qual<br />

associa ao seu /não po<strong>de</strong>r não fazer/ um /querer fazer/. É como se península e<br />

personagens se colocass<strong>em</strong> <strong>em</strong> movimento justamente por acreditar na sua própria<br />

potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r conjunções com objetos <strong>de</strong> valor diferentes <strong>da</strong>queles<br />

com os quais se mantinham conjuntos antes dos acontecimentos sobrenaturais.<br />

Note-se como a expectativa <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ibérica é expressa por um telejornal<br />

espanhol:<br />

Mostraram também as imagens <strong>de</strong> Portugal, <strong>da</strong> costa do mar<br />

atlântico, com as vagas batendo nos rochedos ou revolvendo as areias, e<br />

estava muita gente a olhar o horizonte, com aquele trágico ad<strong>em</strong>ane <strong>de</strong><br />

qu<strong>em</strong> se preparou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> séculos para o ignoto e t<strong>em</strong>e que afinal não venha<br />

[...] Lírico, arrebatado, o locutor espanhol <strong>de</strong>clama, Vejam-se os<br />

portugueses, ao longo <strong>da</strong>s suas doura<strong>da</strong>s praias, proa <strong>da</strong> Europa que foram<br />

e <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser, porque do cais europeu nos <strong>de</strong>sprend<strong>em</strong>os, mas<br />

novamente fen<strong>de</strong>ndo as on<strong>da</strong>s do Atlântico, que almirante nos guia,<br />

que porto nos espera. 41<br />

Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, não há no interior <strong>da</strong> narrativa nenhuma explicação conclusiva a<br />

respeito <strong>de</strong> forças internas ou externas que estariam fazendo a península mover-se<br />

pelo mar. Quatro hipóteses são apresenta<strong>da</strong>s, mas sobre to<strong>da</strong>s pairam dúvi<strong>da</strong>s. A<br />

primeira, segundo a qual o trajeto era direcionado por um ato <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, é logo<br />

ridiculariza<strong>da</strong> pelo narrador:<br />

40 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p. 43.<br />

41 Ibid<strong>em</strong>, pp. 88-9.<br />

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