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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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figurativo que compõe os últimos trechos do romance, compreen<strong>de</strong>-se que o<br />

espanhol é o pai dos filhos <strong>de</strong> Joana Car<strong>da</strong> e <strong>de</strong> Maria Guavaira.<br />

110<br />

[...] Cobriram o corpo, alisaram o chão [...] Depois Joana Car<strong>da</strong><br />

espetou a vara <strong>de</strong> negrilho [sobre a sepultura] à altura <strong>da</strong> cabeça <strong>de</strong> Pedro<br />

Orce. Não é cruz, como b<strong>em</strong> se vê, não é um sinal fúnebre, é só uma vara<br />

que per<strong>de</strong>u a virtu<strong>de</strong> que tinha, mas po<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> ter esta simples serventia,<br />

ser relógio <strong>de</strong> sol num <strong>de</strong>serto calcinado, talvez árvore renasci<strong>da</strong>, se um<br />

pau seco espetado no chão, é capaz <strong>de</strong> milagres, criar raízes, libertar<br />

dos olhos <strong>de</strong> Pedro Orce a nuv<strong>em</strong> escura, amanhã choverá sobre estes<br />

campos.<br />

A península parou [...] O cão [...] afastou-se lentamente. Não o<br />

tornaram a ver [...] Roque Lozano ficará <strong>em</strong> Zufre, irá bater à porta <strong>de</strong> sua<br />

casa [...] Os homens e as mulheres, estes, seguirão o seu caminho, que<br />

futuro, que t<strong>em</strong>po, que <strong>de</strong>stino. A vara <strong>de</strong> negrilho está ver<strong>de</strong>, talvez<br />

floresça no ano que v<strong>em</strong>. 255<br />

“O pau seco que cria raízes, volta a ficar ver<strong>de</strong> e talvez floresça no ano que<br />

v<strong>em</strong>” figurativiza a fecundi<strong>da</strong><strong>de</strong> do velho hom<strong>em</strong>. “A árvore renasci<strong>da</strong>, capaz <strong>de</strong><br />

libertar dos olhos <strong>de</strong> Pedro Orce a nuv<strong>em</strong> escura”, evoca a idéia <strong>de</strong> que o<br />

farmacêutico assistirá ao nascimento <strong>de</strong> seus filhos e ao renascimento <strong>de</strong> seu povo.<br />

Esteja on<strong>de</strong> estiver, reconhecerá Pedro Orce enfim a realização <strong>de</strong> sua própria<br />

performance.<br />

4.4 <strong>José</strong> Anaiço<br />

A quarta personag<strong>em</strong> a entrar <strong>em</strong> cena é <strong>José</strong> Anaiço, que mora <strong>em</strong> alguma<br />

vila à marg<strong>em</strong> do rio Tejo, entre Tomar e Santarém.<br />

255 Ibid<strong>em</strong>, p. 317.<br />

256 Ibid<strong>em</strong>, p. 63.<br />

[...] v<strong>em</strong> a sorrir, talvez pareça por isso mais novo do que Joaquim<br />

Sassa [...] t<strong>em</strong> os <strong>de</strong>ntes muito brancos [...] e no conjunto <strong>da</strong> cara nenhuma<br />

feição sobressai <strong>em</strong> particular, mas há uma certa harmonia nas faces<br />

magras. 256

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