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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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Portanto, referent<strong>em</strong>ente à articulação fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> narrativa, <strong>em</strong> que se<br />

contrapõ<strong>em</strong> estados e transformações, observa-se a conjunção inicial <strong>de</strong> interesses<br />

políticos e econômicos entre povos ibéricos e europeus. O ingresso dos países<br />

peninsulares na União Européia já era um fato, uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que vai ser<br />

contesta<strong>da</strong> e transforma<strong>da</strong>, por meio <strong>da</strong> escrita: <strong>da</strong> conjunção passa-se à disjunção<br />

e, a partir <strong>de</strong>sta, criam-se condições para o estabelecimento <strong>de</strong> novas conjunções.<br />

Há no plano do referente histórico, ao qual A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong> r<strong>em</strong>ete, um<br />

programa narrativo <strong>de</strong> uso e um programa narrativo <strong>de</strong> base, que se sobrepõ<strong>em</strong><br />

àqueles relativos ao plano do fantástico. Para realizar a performance, isto é, para<br />

integrar-se aos países que outrora colonizaram, Espanha e Portugal <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

primeiramente adquirir competência, que neste caso é reencontrar-se com seu<br />

passado histórico. Ain<strong>da</strong> aqui a transformação será reflexiva, uma vez que os papéis<br />

actanciais <strong>de</strong> sujeito <strong>de</strong> estado e sujeito <strong>de</strong> fazer são exercidos pelo mesmo ator: a<br />

Península Ibérica.<br />

Mas a performance, além <strong>da</strong> competência, faz supor também a manipulação.<br />

Se a rachadura dos Pireneus é manipula<strong>da</strong> pelo sobrenatural, o rompimento político<br />

com a Europa − o programa narrativo <strong>de</strong> uso − terá como <strong>de</strong>stinador-manipulador os<br />

próprios países europeus. Embora estes s<strong>em</strong>pre tenham <strong>de</strong>sprezado os povos <strong>da</strong><br />

península, a partir <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado momento, passam a pressionar as nações<br />

ibéricas para que estas se integr<strong>em</strong> na união do continente. Os trechos abaixo<br />

expressam este sentimento <strong>de</strong> superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> e esta pressão: o primeiro,<br />

manifestado na voz <strong>de</strong> um ci<strong>da</strong>dão europeu qualquer; a segun<strong>da</strong>, no discurso do<br />

primeiro-ministro <strong>de</strong> Portugal.<br />

321 Ibid<strong>em</strong>, p. 153.<br />

135<br />

[...] Ain<strong>da</strong> que não seja lisonjeiro confessá-lo, para certos europeus,<br />

ver<strong>em</strong>-se livres dos incompreensíveis povos oci<strong>de</strong>ntais, agora <strong>em</strong><br />

navegação <strong>de</strong>smastrea<strong>da</strong> pelo mar oceano, don<strong>de</strong> nunca <strong>de</strong>veriam ter<br />

vindo, foi, só por si, uma benfeitoria, promessa <strong>de</strong> dias ain<strong>da</strong> mais<br />

confortáveis, ca<strong>da</strong> qual com seu igual, começámos finalmente a saber o<br />

que a Europa é [...] Apost<strong>em</strong>os que <strong>em</strong> nosso final futuro estar<strong>em</strong>os<br />

limitados a um só país, quinta-essência do espírito europeu, sublimado<br />

perfeito simples, a Europa, isto é, a Suíça. 321

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