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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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por outro é a ocorrência continental que surge como manipuladora do fato inusitado<br />

sucedido a ca<strong>da</strong> personag<strong>em</strong>. O narrador, entretanto, mo<strong>da</strong>liza estas relações na<br />

categoria do /parecer/.<br />

Já se fez referência ao fato <strong>de</strong> que algumas personagens, ante o<br />

sobrenatural, abandonam suas rotinas pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> partilhar experiências. Um<br />

ex<strong>em</strong>plo é o seguinte diálogo entre Joaquim Sassa e <strong>José</strong> Anaiço:<br />

[...] E se o encontrarmos [Pedro Orce], que vamos dizer-lhe [...]<br />

Vamos falar-lhe <strong>da</strong> tua <strong>pedra</strong> e dos meus estorninhos, e ele falará <strong>da</strong><br />

terra que tr<strong>em</strong>eu, ou ain<strong>da</strong> tr<strong>em</strong>e. 35<br />

Outro ex<strong>em</strong>plo é a conversa entre <strong>José</strong> Anaiço e Joana Car<strong>da</strong>:<br />

Estão sentados, felizmente numa sombra <strong>de</strong> árvores, ele perguntou,<br />

Que foi que a trouxe a Lisboa, por que razão veio procurar-nos, e ela<br />

disse, Porque <strong>de</strong>ve ser ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que você e os seus amigos têm parte<br />

no que está a acontecer, A acontecer a qu<strong>em</strong>, B<strong>em</strong> sabe a que me refiro,<br />

a península, o arrancamento dos Pirenéus, esta viag<strong>em</strong> como nunca se viu<br />

outra. 36<br />

Mas o motivo para largar tudo e sair península a<strong>de</strong>ntro po<strong>de</strong> advir<br />

simplesmente do espírito <strong>de</strong> aventura, que não me<strong>de</strong> conseqüências n<strong>em</strong><br />

antece<strong>de</strong>ntes. Pedro Orce propõe, pela primeira vez:<br />

[...] E se fôss<strong>em</strong>os à costa ver passar o rochedo. [...] Quantas<br />

vezes, para mu<strong>da</strong>r a vi<strong>da</strong>, precisamos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> inteira, pensamos tanto,<br />

tomamos balanço e hesitamos, <strong>de</strong>pois voltamos ao princípio, tornamos a<br />

pensar e a pensar, <strong>de</strong>slocamo-nos nas calhas do t<strong>em</strong>po com um movimento<br />

circular, como os espojinhos que atravessam o campo levantando poeira<br />

[...] Outras vezes uma palavra é quanto basta, Vamos ver passar o<br />

rochedo, e logo se puseram <strong>de</strong> pé, prontos para a aventura. 37<br />

Uma segun<strong>da</strong> vez ain<strong>da</strong> o farmacêutico <strong>de</strong>cidirá o <strong>de</strong>stino:<br />

35 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p. 72<br />

36 Ibid<strong>em</strong>, p. 116.<br />

37 Ibid<strong>em</strong>, p. 80.<br />

27

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