A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...
A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...
A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>de</strong>sce <strong>de</strong>vagar. Os sábios, ain<strong>da</strong> que com muita prudência, prevê<strong>em</strong> que o<br />
movimento está prestes a cessar. 44<br />
Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que a península é compreendi<strong>da</strong> como um bebê quase<br />
formado, prestes a vir à luz, novas formas <strong>de</strong> ser também são gera<strong>da</strong>s pelas<br />
personagens:<br />
E pela população <strong>em</strong> geral:<br />
[...] Foi aqui, numa <strong>de</strong>stas al<strong>de</strong>ias, que Maria Guavaira e Joana<br />
Car<strong>da</strong> perceberam que estavam grávi<strong>da</strong>s. 45<br />
[...] Foi o caso que, <strong>de</strong> uma hora para a outra [...] to<strong>da</strong>s ou quase<br />
to<strong>da</strong>s as mulheres férteis se <strong>de</strong>clararam grávi<strong>da</strong>s [...] Tendo tudo isso<br />
acontecido, dizendo o tal português poeta que a península é uma criança<br />
que viajando se formou e agora se revolve no mar para nascer, como se<br />
estivesse no interior <strong>de</strong> um útero aquático, que motivos haveria para<br />
espantar-nos <strong>de</strong> que os humanos úteros <strong>da</strong>s mulheres ocupass<strong>em</strong>, acaso<br />
as fecundou a gran<strong>de</strong> <strong>pedra</strong> que <strong>de</strong>sce para o sul, sab<strong>em</strong>os nós lá se são<br />
realmente filhas dos homens estas novas crianças, ou se é seu pai o<br />
gigantesco talha-mar que vai <strong>em</strong>purrando as on<strong>da</strong>s à sua frente,<br />
penetrando-as, águas murmurantes, o sopro e o suspiro dos ventos. 46<br />
A metáfora do nascimento, utiliza<strong>da</strong> para simbolizar a completu<strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />
transformações, confirma o paralelismo <strong>da</strong>s performances realiza<strong>da</strong>s pelos sujeitos<br />
coletivo e individual. Já se falou do espírito <strong>de</strong> aventura como <strong>de</strong>stinador-<br />
manipulador <strong>da</strong> conjunção <strong>de</strong> Portugal e Espanha com os países do h<strong>em</strong>isfério sul.<br />
Mostra-se adiante como o mesmo espírito, ou seja, a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, também manipula,<br />
por meio <strong>da</strong> sedução, o /querer fazer/ <strong>da</strong>s personagens. Ao <strong>de</strong>cidir procurar Pedro<br />
Orce, Joaquim Sassa diz a si mesmo:<br />
44 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p. 310.<br />
45 Ibid<strong>em</strong>, p. 289.<br />
46 Ibid<strong>em</strong>, p. 306.<br />
31