30.04.2013 Views

A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Cabe ressaltar que o possessivo equivale ao compl<strong>em</strong>ento substantivo<br />

introduzido por <strong>de</strong>. É o caso <strong>da</strong> seguinte ocorrência:<br />

Este mundo, não nos fatigar<strong>em</strong>os <strong>de</strong> o repetir, é uma comédia <strong>de</strong><br />

enganos. Outra prova <strong>de</strong>sta ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é ter-se <strong>da</strong>do o nome <strong>de</strong> Hom<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

Orce a um osso encontrado, não precisamente <strong>em</strong> Orce, mas <strong>em</strong> Venta<br />

Micena. 140<br />

Gramaticalmente, a expressão “<strong>de</strong> Orce” <strong>de</strong>veria, conforme o próprio narrador<br />

o reconhece, indicar o lugar <strong>em</strong> que foram encontrados os fósseis do ser humano<br />

mais antigo <strong>de</strong> que se t<strong>em</strong> notícia na Europa.<br />

Os pronomes possessivos substantivos, por sua vez, associam uma retoma<strong>da</strong><br />

pronominal a uma relação do tipo meu / teu / nosso / vosso + Nome: o teu é tanto “o<br />

N que é teu” quanto “a ação que tu fazes”. Embora este conjunto <strong>de</strong> pronomes<br />

contenha <strong>em</strong>breantes <strong>de</strong> pessoa (o meu, por ex<strong>em</strong>plo, contém um eu), eles<br />

<strong>de</strong>pend<strong>em</strong>, entretanto, <strong>da</strong> não-pessoa: o meu <strong>de</strong>signa um objeto do qual eu falo, <strong>da</strong><br />

mesma maneira que o livro ou Paulo. 141 Veja-se o trecho <strong>em</strong> que Joaquim Sassa<br />

compara sua mulher com a <strong>de</strong> seu companheiro:<br />

3.1 As vozes do discurso<br />

[...] agora, ao lado <strong>de</strong> Maria Guavaira não vale na<strong>da</strong> Joana Car<strong>da</strong>, a<br />

minha [mulher] é muito mais bela senhor <strong>José</strong> Anaíço. 142<br />

Uma vez instala<strong>da</strong> no simulacro lingüístico que é o texto literário, a pessoa<br />

fala. “O hom<strong>em</strong> no romance é essencialmente o hom<strong>em</strong> que fala”, diz Bakhtin. 143<br />

Ora, o hom<strong>em</strong> que fala no romance o faz por meio <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong><br />

linguagens diferentes constitutivas do discurso literário. A este conjunto,<br />

140 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p. 75.<br />

141 MAINGUENEAU, Dominique. El<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> lingüística para o texto literário. Trad. Maria<br />

Augusta <strong>de</strong> Matos. São Paulo, Martins Fontes, 1996, p.12.<br />

142 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p. 181.<br />

143 BAKHTIN, Mikhail. Questões <strong>de</strong> literatura e <strong>de</strong> estética: a teoria do romance. Trad. Aurora<br />

Fornoni Bernadini et. al. 3.ed., São Paulo, UNESP / HUCITEC, 1993, pp. 134-5.<br />

65

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!