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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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Já a polifonia trata <strong>da</strong> relação entre os diferentes centros discursivos<br />

presentes no texto e t<strong>em</strong> sido associa<strong>da</strong> à heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> mostra<strong>da</strong> que inci<strong>de</strong><br />

sobre as manifestações explícitas, recuperáveis a partir <strong>de</strong> uma diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fontes <strong>de</strong> enunciação. Sob este aspecto, pod<strong>em</strong> ser levanta<strong>da</strong>s algumas fontes <strong>da</strong><br />

heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> mostra<strong>da</strong> <strong>em</strong> A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, por meio dos recursos <strong>de</strong><br />

intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong> utilizados pelo autor. Enten<strong>de</strong>-se por intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong> o tipo <strong>de</strong><br />

citação que uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> formação discursiva <strong>de</strong>fine como legítima através <strong>de</strong><br />

sua própria prática, como no ex<strong>em</strong>plo abaixo, <strong>em</strong> que o narrador busca na obra <strong>de</strong><br />

Shakespeare uma referência para expressar a atitu<strong>de</strong> <strong>da</strong> personag<strong>em</strong>.<br />

[...] Ligeiro, subiu ao quarto <strong>de</strong> <strong>José</strong> Anaíço, ia mu<strong>da</strong>r <strong>de</strong> sapatos,<br />

lavar os <strong>de</strong>ntes, estes procedimentos comuns não são incompatíveis com o<br />

espírito resoluto, dê-se o ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Otelo, que, estando constipado e<br />

s<strong>em</strong> <strong>da</strong>r pelo que fazia, ridiculamente se assou antes <strong>de</strong> matar<br />

Desdémona. 149<br />

Outras vozes presentes no discurso surg<strong>em</strong> por meio <strong>de</strong> diferentes<br />

mecanismos intertextuais.<br />

[...] fotografias tira<strong>da</strong>s <strong>de</strong> satélite, que mostravam o progressivo<br />

alargamento do canal entre a península e a França [...] que aquilo já não<br />

era canal mas água aberta, por on<strong>de</strong> navegavam os barcos à vonta<strong>de</strong>, <strong>em</strong><br />

mares, estes sim, nunca <strong>da</strong>ntes navegados. 150<br />

No trecho acima, o narrador cita Os Lusía<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> Camões, para criar uma<br />

ironia. Abaixo, t<strong>em</strong>-se um provérbio, que r<strong>em</strong>ete à fala popular:<br />

149 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p.111.<br />

150 Ibid<strong>em</strong>, pp. 87-8<br />

151 Ibid<strong>em</strong>, p. 64.<br />

[...] Atravessar o Alentejo por este braseiro, <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> um céu<br />

mais branco do que azul [...] seria logo uma história completa, acaso mais<br />

rigorosa do que outra <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos conta<strong>da</strong> [...] Qu<strong>em</strong> contou um conto,<br />

<strong>de</strong> não contar outro se <strong>da</strong>rá <strong>de</strong>sconto. 151<br />

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