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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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do autor que se encontram tanto no objeto <strong>da</strong> narração como nela própria e<br />

na representação do narrador, que se revela no seu processo. Não<br />

perceber esse segundo plano intencionalmente acentuado do autor significa<br />

não compreen<strong>de</strong>r a obra (1993:118-9).<br />

Esse segundo plano, “intencionalmente acentuado do autor”, t<strong>em</strong> por vezes<br />

realimentado discussões a respeito do quanto se po<strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r do autor real <strong>em</strong><br />

sua obra. Discute-se até que ponto há uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> entre autor implícito e autor<br />

<strong>em</strong>pírico. Para certos exegetas, diz Bakhtin 173 , a voz <strong>de</strong> Dostoïevski se confun<strong>de</strong><br />

com a voz <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong> suas personagens, para outros, é uma síntese particular<br />

<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s estas vozes i<strong>de</strong>ológicas, para outros enfim, ela é completamente recoberta<br />

pela voz dos heróis.<br />

Mattoso Camara 174 também percebe como inegável a conexão íntima entre a<br />

personali<strong>da</strong><strong>de</strong> do autor e a expressão afetiva <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> utiliza<strong>da</strong> por este.<br />

Segundo o conceituado lingüista brasileiro, a contribuição pessoal na frase se<br />

resume, a rigor, no estilo:<br />

[...] é o impulso para [...] exprimir claramente nossa maneira pessoal<br />

<strong>de</strong> sentir o assunto que <strong>de</strong>termina uma formulação [frasal] própria, pela<br />

escolha <strong>de</strong> palavras na base <strong>de</strong> suas conotações [...] por uma disposição<br />

peculiar <strong>de</strong>ssas palavras, pelo estabelecimento <strong>de</strong> pausas inespera<strong>da</strong>s,<br />

pelo uso <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> figura<strong>da</strong> e até pela “<strong>de</strong>formação” <strong>de</strong> certas normas<br />

<strong>da</strong> língua.<br />

Ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong> nós t<strong>em</strong> linhas diretrizes pessoais para fazê-lo e,<br />

portanto, um estilo seu. Por isso, a estilística po<strong>de</strong> ser um meio <strong>de</strong> penetrar<br />

numa psique individual (1989:172).<br />

Como se fez neste estudo, algumas tentativas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a voz do autor<br />

real <strong>em</strong> textos literários têm sido <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong>s, mais recent<strong>em</strong>ente, pela<br />

aproximação e cotejamento entre valores expressos na obra e o conjunto <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos<br />

veiculados sobre o autor por meio <strong>de</strong> biografias, resenhas, entrevistas concedi<strong>da</strong>s a<br />

veículos <strong>de</strong> comunicação, participação <strong>em</strong> conferências e mesas-redon<strong>da</strong>s, entre<br />

outros meios, que acabam tornando públicas as opiniões do artista.<br />

173 BAKHTIN Mikhail. La poétique <strong>de</strong> Dostoïewski. Paris, Seuil, 1970, p.31<br />

174 CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Princípios <strong>de</strong> linguística geral. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Padrão, p. 172.<br />

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