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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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Fora do alcance do entendimento está a inusita<strong>da</strong> rachadura dos Pireneus<br />

que, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>lizações s<strong>em</strong>ióticas, coloca a península numa situação <strong>de</strong><br />

/não po<strong>de</strong>r não fazer/ a separação, assim como o faz<strong>em</strong> os fatos insólitos com<br />

relação às personagens. A manipulação que se verifica <strong>em</strong> ambos os casos ocorre<br />

no nível cognitivo, é negativa e se dá por provocação, 29 <strong>em</strong> que o <strong>de</strong>stinador-<br />

manipulador exprime um juízo negativo a respeito <strong>da</strong> competência do manipulado e<br />

à qual está associado um /<strong>de</strong>ver fazer/. Tudo ocorre como se o sobrenatural<br />

zombasse <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Espanha e Portugal, e por conseqüência <strong>de</strong> sua gente,<br />

<strong>de</strong> sobreviver<strong>em</strong> a uma disjunção súbita. Países e populações vê<strong>em</strong>-se <strong>de</strong> uma hora<br />

para outra como que obrigados a agir <strong>de</strong> alguma forma, provocados por<br />

acontecimentos inusitados que se supõ<strong>em</strong> relacionados entre si. Nisso parec<strong>em</strong><br />

acreditar as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s que interrogam Joaquim Sassa a respeito <strong>da</strong> <strong>pedra</strong> pesa<strong>da</strong><br />

que havia atirado ao mar. Registra-se o que lhe diz o governador civil:<br />

e efeito.<br />

[...] a ruptura dos Pirenéus não se explica por causas<br />

naturais, ou então estaríamos mergulhados numa catástrofe planetária,<br />

foi a partir <strong>de</strong>sta evidência que começamos a investigar casos insólitos<br />

ocorridos nestes últimos dias, e o seu é um <strong>de</strong>les. 30<br />

A própria personag<strong>em</strong> chega a consi<strong>de</strong>rar esta hipótese:<br />

[...] Qu<strong>em</strong> sabe se a culpa não é minha, murmurou Joaquim<br />

Sassa [...] atirei uma <strong>pedra</strong> ao mar e há qu<strong>em</strong> acredite que foi razão <strong>de</strong><br />

arrancar-se a península à Europa. 31<br />

Os outros casos insólitos também são contextualizados <strong>em</strong> relação <strong>de</strong> causa<br />

29 Para os d<strong>em</strong>ais tipos <strong>de</strong> manipulação, ver COURTÉS, Joseph. Analyse sémiotique du<br />

discours: <strong>de</strong> l’énoncé à l’énonciacion. Paris, Hachette, 1991, p. 109 e GREIMAS, Algir<strong>da</strong>s<br />

Julien e COURTÉS, Joseph. Dicionário <strong>de</strong> s<strong>em</strong>iótica. Trad. Alceu Dias Lima et alii., São<br />

Paulo, Cutrix, s.d., p. 269.<br />

30 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p. 50.<br />

31 Ibid<strong>em</strong>, p. 69<br />

25

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