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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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[...] Era noite, o princípio <strong>de</strong>la, quando a maioria <strong>da</strong>s pessoas já<br />

recolheram a casa, estão uns sentados a olhar a televisão [...]<br />

Meia hora <strong>de</strong>pois a televisão e a rádio recomeçaram a transmitir,<br />

<strong>de</strong>ram notícias, e assim soub<strong>em</strong>os que todos os cabos <strong>de</strong> alta tensão entre<br />

França e Espanha tinham rebentado. 112<br />

A primeira pessoa do plural, expressa pela <strong>de</strong>sinência verbal <strong>em</strong> “soub<strong>em</strong>os”,<br />

inclui o narrador e to<strong>da</strong>s as “pessoas” que estavam “a olhar a televisão”.<br />

Salvaguar<strong>da</strong>ndo as diferenças <strong>de</strong> plurais já menciona<strong>da</strong>s, o mesmo po<strong>de</strong> ser<br />

dito com relação ao vós, ou seja, o vós pluralizado é um dêitico puro, enquanto que<br />

o vós que contém um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> terceira pessoa necessita <strong>de</strong> um referente<br />

cotextual.<br />

Com relação ain<strong>da</strong> à primeira pessoa do plural, há o nós <strong>em</strong>pregado no lugar<br />

<strong>de</strong> eu, cuja representação gráfica é a seguinte:<br />

Nós = eu + φ<br />

É o chamado nós retórico, também conhecido como majestático, <strong>de</strong> modéstia,<br />

<strong>de</strong> autor. O que distingue um do outro é o tipo <strong>de</strong> texto <strong>em</strong> que o nós se encontra.<br />

Trata-se na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma <strong>em</strong>breag<strong>em</strong> enunciativa, uma vez que o nós significa<br />

eu, d<strong>em</strong>onstrando que houve uma <strong>de</strong>breag<strong>em</strong> enunciativa prece<strong>de</strong>nte.<br />

A existência <strong>de</strong> um nós retórico explica igualmente que seja possível o uso <strong>de</strong><br />

um vós dito “<strong>de</strong> poli<strong>de</strong>z”. Interpelar um indivíduo único por vós significa uma<br />

ampliação <strong>da</strong> pessoa e não uma adição <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, 113 como na representação<br />

abaixo:<br />

Vós = tu + φ<br />

[...] Quanto aos Estados Unidos <strong>da</strong> América [...] o i<strong>de</strong>al, se quer<strong>em</strong><br />

que vos diga, e esse é o sonho secreto do Departamento <strong>de</strong> Estado e do<br />

112 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, pp. 36-7.<br />

113 MAINGUENEAU, Dominique. El<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> lingüística para o texto literário. Trad. Maria<br />

Augusta <strong>de</strong> Matos. São Paulo, Martins Fontes, 1996, p.12.<br />

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