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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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mesmo t<strong>em</strong>po. Longe <strong>de</strong> transmitir uma impressão passiva produzi<strong>da</strong> pela<br />

enunciação <strong>de</strong> outr<strong>em</strong>, exprime uma orientação ativa, que não se limita meramente<br />

à passag<strong>em</strong> <strong>da</strong> primeira à terceira pessoa, mas introduz na enunciação cita<strong>da</strong> suas<br />

próprias entoações, que entram <strong>em</strong> contato com as entoações <strong>da</strong> palavra citante,<br />

interferindo nela. 225<br />

Po<strong>de</strong>-se afirmar, portanto, junto com Reyes 226 , que no discurso indireto livre o<br />

narrador se faz personag<strong>em</strong> e a personag<strong>em</strong> se faz <strong>de</strong> narrador (1984:147). Em<br />

outras palavras, o discurso indireto livre atenua o <strong>de</strong>snível entre discurso citante e<br />

discurso citado, s<strong>em</strong> anular a autonomia do discurso citado. Permite, <strong>de</strong>ssa forma,<br />

restituir a autonomia <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> e integrar as falas cita<strong>da</strong>s no fio <strong>da</strong> narração,<br />

como acontece no ex<strong>em</strong>plo abaixo:<br />

[...] os ouvidos zumbiam-lhe como um búzio, Ora a minha vi<strong>da</strong>, como é que<br />

eles teriam sabido <strong>da</strong> <strong>pedra</strong> [...] e agora que vou eu fazer. Não respon<strong>de</strong>ria ao<br />

apelo, não se apresentaria a nenhum governador civil ou militar, imagine-se a<br />

conversa absur<strong>da</strong>, o gabinete fechado, o gravador a gravar, Senhor Joaquim<br />

Sassa, atirou uma <strong>pedra</strong> ao mar, Atirei (p.49-50).<br />

O trecho grifado correspon<strong>de</strong> ao momento <strong>em</strong> que o discurso <strong>da</strong> personag<strong>em</strong><br />

Joaquim Sassa <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser citado <strong>de</strong> modo direto e passa a indireto livre.<br />

225<br />

BAKHTIN Mikhail. Marxismo e filosofia <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi<br />

Vieira. 7.ed., São Paulo, Hucitec, 1995, p. 190.<br />

226<br />

REYES, Graciela. Polifonía textual: la citación en el relato literario. Madri, Gredos, 1984,<br />

p. 147.<br />

98

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