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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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pessoa do narrador, que só po<strong>de</strong> ser <strong>em</strong> sua narrativa a primeira pessoa, como,<br />

aliás, o é todo sujeito <strong>da</strong> enunciação <strong>em</strong> seu enunciado. Diz o autor 182 :<br />

Le choix du romancier n’est pas entre <strong>de</strong>ux formes grammaticales,<br />

mais entre <strong>de</strong>ux attitu<strong>de</strong>s narratives (dont les formes grammaticales ne sont<br />

qu’une conséquence mécanique): faire raconter l’histoire par l’un <strong>de</strong> ses<br />

“personnages”, ou par un narrateur étranger à cette histoire.<br />

Na narrativa <strong>em</strong> primeira pessoa, o que se t<strong>em</strong> portanto é um narrador<br />

personag<strong>em</strong> e/ou test<strong>em</strong>unha dos fatos narrados, enquanto que na narrativa dita <strong>em</strong><br />

terceira pessoa o narrador conta os fatos “<strong>de</strong> fora”, s<strong>em</strong> participar do mundo narrado<br />

ou, <strong>em</strong> outros termos, s<strong>em</strong> mostrar-se gramaticalmente como narrador. A este<br />

segundo tipo <strong>de</strong> narrador, isto é, àquele que está ausente <strong>da</strong> história que ele conta,<br />

Genette chama <strong>de</strong> heterodiegético, <strong>de</strong>stinando o nome <strong>de</strong> homodiegético para o tipo<br />

<strong>de</strong> narrador presente na narrativa. 183<br />

Na narração homodiegética, junto com os sinais <strong>de</strong> enunciação, o narrador<br />

<strong>de</strong>ixa no texto sinais <strong>de</strong> sua personali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ain<strong>da</strong> que mais não seja pelos juízos <strong>de</strong><br />

valores que <strong>em</strong>ite sobre o mundo fictício. Já o narrador heterodiegético, por não se<br />

constituir como falante por meio <strong>de</strong> sua enunciação, carece <strong>de</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou<br />

seja, é privado <strong>da</strong> condição humana.<br />

Há, porém, textos <strong>em</strong> que o narrador encontra-se “fora” dos acontecimentos<br />

narrados, <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminados momentos, e, <strong>em</strong> outros, coloca-se numa instância<br />

diegética interior ao discurso. Na maioria dos textos <strong>de</strong> <strong>José</strong> Saramago, o narrador é<br />

ora homo ora heterodiegético. A dupla posição é obti<strong>da</strong> por meio dos mecanismos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>breag<strong>em</strong> e <strong>em</strong>breag<strong>em</strong>, responsáveis pela criação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados efeitos <strong>de</strong><br />

sentido.<br />

Viu-se, anteriormente, como o narrador e o leitor <strong>de</strong> A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong> estão<br />

instalados na narrativa, pela <strong>de</strong>breag<strong>em</strong>. Viu-se também como, pelo uso <strong>de</strong>corrente<br />

<strong>de</strong> <strong>em</strong>breag<strong>em</strong>: (1) do nós <strong>de</strong> modéstia <strong>em</strong> linguag<strong>em</strong> metalingüística, esse narrador<br />

constrói e <strong>de</strong>sconstrói a narrativa; (2) do nós <strong>de</strong> autor, refere-se ora ao saber<br />

científico ora ao saber popular, e (3) do nós <strong>em</strong>pregado no lugar <strong>de</strong> terceira e<br />

182 GENETTE, Gérard. Figure III. Paris, Seuil, 1972, 252.<br />

183 Id<strong>em</strong>, ibid<strong>em</strong>.<br />

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