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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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suas marcas dêiticas, suas marcas <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. No discurso citado, os<br />

<strong>em</strong>breantes só pod<strong>em</strong> ser interpretados a partir <strong>da</strong>s indicações forneci<strong>da</strong>s pelo<br />

discurso citante, que, além <strong>de</strong> criar a situação <strong>de</strong> enunciação, t<strong>em</strong> como função<br />

fazer comentários a respeito <strong>de</strong> outros el<strong>em</strong>entos expressivos, tais como cadência<br />

<strong>de</strong> fala, entonação, sotaque, mímica, entre outros.<br />

No discurso narrativo literário, o discurso direto dos diálogos marca a zona <strong>da</strong><br />

fala <strong>da</strong>s personagens, criando um efeito <strong>de</strong> sentido <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Isto é, os diálogos<br />

no texto literário tratam <strong>de</strong> criar situações <strong>de</strong> enunciação s<strong>em</strong>elhantes às reais,<br />

postas <strong>em</strong> contexto. Justamente por ser<strong>em</strong> fictícios, esses diálogos mimetizam atos<br />

<strong>de</strong> fala autênticos, que se realizam a ca<strong>da</strong> leitura.<br />

Já no discurso indireto, não há uma <strong>de</strong>breag<strong>em</strong> interna, o que significa que o<br />

discurso citado está subordinado à enunciação do discurso citante. Segundo<br />

Maingueneau 214 , o discurso indireto só é discurso citado por seu sentido,<br />

constituindo uma tradução <strong>da</strong> enunciação cita<strong>da</strong>.<br />

De fato, no discurso indireto, os limites entre relato <strong>de</strong> palavras e a<br />

reprodução <strong>de</strong> palavras são incertos. O discurso citante neste caso ten<strong>de</strong> a não<br />

reproduzir um significante, mas sim a utilizar um equivalente s<strong>em</strong>ântico integrado na<br />

sua própria enunciação. Portanto, não há mais que uma situação <strong>de</strong> enunciação;<br />

não há dois eu, mas uma só fonte enunciativa − um locutor − que não diz eu,<br />

responsável por parte <strong>da</strong> enunciação. Isto quer dizer que os traços enunciativos <strong>da</strong><br />

enunciação do locutor são apagados: as pessoas e os dêiticos ficam <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

do discurso citante, isto é, são referidos à situação <strong>da</strong> enunciação <strong>de</strong>ste último.<br />

Po<strong>de</strong>-se afirmar que, <strong>em</strong> A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, as citações ocorr<strong>em</strong> quase que<br />

exclusivamente <strong>em</strong> discurso direto. O fragmento abaixo representa a forma<br />

<strong>em</strong>prega<strong>da</strong> para a maioria dos diálogos. Repare-se como o narrador introduz a fala<br />

<strong>da</strong>s personagens com verbos <strong>de</strong> sentido elocutivo anteposto ou posposto:<br />

<strong>José</strong> Anaiço fez as contas à viag<strong>em</strong> que os espera [...] e<br />

comunicou os resultados, De Palas <strong>de</strong> Rei, on<strong>de</strong> mais ou menos agora<br />

estamos, até Valhadolid, serão uns quatrocentos quilómetros, e <strong>da</strong>í até à<br />

fronteira, <strong>de</strong>sculp<strong>em</strong>, aqui neste mapa ain<strong>da</strong> tenho uma fronteira, são outros<br />

214 MAINGUENEAU, Dominique. El<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> lingüística para o texto literário. Trad. Maria<br />

Augusta <strong>de</strong> Matos. São Paulo, Martins Fontes, 1996, p. 108.<br />

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