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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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Como se po<strong>de</strong> notar, há inclusive uma i<strong>de</strong>ntificação entre os fenômenos a que<br />

hom<strong>em</strong> e cão estão ligados. E haverá entre eles uma silenciosa e mágica amiza<strong>de</strong><br />

durante to<strong>da</strong> a história.<br />

Também é Pedro Orce qu<strong>em</strong> apresenta um sentido <strong>de</strong> direção para as<br />

an<strong>da</strong>nças <strong>da</strong>s personagens. Ele é qu<strong>em</strong> se move <strong>em</strong> primeiro lugar, ao ir à imprensa<br />

<strong>de</strong> Grana<strong>da</strong> dizer que sentia a terra tr<strong>em</strong>er. É ele ain<strong>da</strong> qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ver Gibraltar e<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong>siste; qu<strong>em</strong> influencia o grupo a seguir o cão; qu<strong>em</strong> sugere a viag<strong>em</strong> até<br />

os Pireneus. Mas o momento que representa melhor os dois lados <strong>de</strong> Pedro Orce,<br />

ou seja, instinto e espírito, razão e <strong>em</strong>oção, ciência e imaginação, sabiamente<br />

integrados <strong>em</strong> seu próprio ser, é aquele <strong>em</strong> que o farmacêutico, acompanhado do<br />

cão encontra a barca <strong>de</strong> <strong>pedra</strong> nas costas <strong>da</strong> Galícia. Ele compreen<strong>de</strong> <strong>de</strong> imediato<br />

estar diante <strong>de</strong> um fenômeno geológico.<br />

108<br />

[...] Pedro Orce conhece <strong>de</strong> químicas mais do que o suficiente<br />

para a si próprio po<strong>de</strong>r explicar o achado, uma antiga barca <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />

trazi<strong>da</strong> pelas vagas e <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> pelos mareantes, vara<strong>da</strong> sobre estas lajes<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> im<strong>em</strong>oriais t<strong>em</strong>pos, <strong>de</strong>pois cobriram-nas as terras, mineralizou-se a<br />

matéria orgânica, outra vez as terras se retiraram, até hoje, hão-<strong>de</strong> ser<br />

precisos milhares <strong>de</strong> anos para que se apagu<strong>em</strong> os contornos e apouqu<strong>em</strong><br />

os volumes, vento, chuva, a lima do frio e do calor, um dia não se distinguirá<br />

a <strong>pedra</strong> <strong>da</strong> <strong>pedra</strong> (p.183-4). 250<br />

Porém, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algum t<strong>em</strong>po, t<strong>em</strong> outra impressão:<br />

250 Ibid<strong>em</strong>, pp. 183-4.<br />

251 Ibid<strong>em</strong>, p. 184.<br />

[...] Pedro Orce sentou-se no fundo do barco, na posição <strong>em</strong> que<br />

está não vê mais que o céu e o mar distante, se esta nave balouçasse um<br />

pouco julgaria que ia navegando, e então, quanto pod<strong>em</strong> imaginações,<br />

representou-se-lhe uma idéia absur<strong>da</strong> que seria ser ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente<br />

navegante este barco petrificado, aos pontos <strong>de</strong> ser ele que consigo<br />

arrastava a península a reboque. 251

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