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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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No <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> narrativa, o que se verá são estados <strong>de</strong> disjunção:<br />

Espanha e Portugal <strong>de</strong>sgarram-se completamente do continente europeu; as<br />

personagens (e to<strong>da</strong> a coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>) são aparta<strong>da</strong>s <strong>da</strong> rotina <strong>de</strong> suas vi<strong>da</strong>s.<br />

F (Península Ibérica ∪ Europa); F (personagens ∪ valores tradicionais)<br />

No final do romance, nota-se que tanto a península quanto as personagens<br />

caminharam <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> conjunção. A Ibéria está volta<strong>da</strong> para um<br />

novo objeto <strong>de</strong> valor representado pelos continentes do h<strong>em</strong>isfério sul, enquanto que<br />

a população <strong>em</strong> geral e as personagens vê<strong>em</strong>-se forçosamente envolvi<strong>da</strong>s num<br />

processo <strong>de</strong> reciclag<strong>em</strong> <strong>de</strong> valores:<br />

F (Península Ibérica ∩ H<strong>em</strong>isfério Sul); F (personagens ∩ novos valores)<br />

Com exceção <strong>de</strong> Pedro Orce, que no final entra <strong>em</strong> disjunção com o objeto<br />

vi<strong>da</strong>, as d<strong>em</strong>ais personagens principais entram <strong>em</strong> conjunção com novas formas <strong>de</strong><br />

viver. Veja-se a trajetória <strong>de</strong> Joana Car<strong>da</strong>, que rompe seu casamento e vai iniciar um<br />

relacionamento amoroso com <strong>José</strong> Anaiço. A passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um estado a outro é<br />

representa<strong>da</strong> pela reflexão e pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> novos conhecimentos:<br />

[...] Joana Car<strong>da</strong> continuou a falar, Estou <strong>em</strong> casa <strong>de</strong> uns<br />

parentes, queria pensar, mas não o balancé do costume, terei feito b<strong>em</strong>,<br />

terei feito mal, o feito feito está, queria era pensar na vi<strong>da</strong>, para que<br />

serve, para que servi eu nela, sim, cheguei a uma conclusão e julgo<br />

que não há outra, não sei como a vi<strong>da</strong> é. [...] Era para aqui que eu<br />

vinha pensar na minha vi<strong>da</strong> [...] e um dia [...] encontrei este pau. [...]<br />

Levantei o pau do chão, sentia-o vivo como se ele fosse to<strong>da</strong> a árvore <strong>de</strong><br />

que tinha sido cortado, ou assim o sinto agora quando me l<strong>em</strong>bro, e nesse<br />

momento, num gesto que mais foi <strong>de</strong> criança do que <strong>de</strong> pessoa adulta,<br />

tracei um risco que me separava <strong>de</strong> Coimbra, do hom<strong>em</strong> com qu<strong>em</strong><br />

vivi, <strong>de</strong>finitivamente, um risco que cortava o mundo <strong>em</strong> duas<br />

meta<strong>de</strong>s. 21<br />

21 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, pp.139-40.<br />

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