A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...
A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...
A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> actante <strong>da</strong> enunciação enuncia<strong>da</strong> po<strong>de</strong> encontrar-se <strong>em</strong> sincretismo<br />
com um dos actantes do enunciado. Já o observador é o sujeito cognitivo (aquele<br />
que sabe) <strong>de</strong>legado pelo enunciador e instalado por ele no enunciado, no interior do<br />
qual é encarregado <strong>de</strong> exercer o fazer receptivo e, eventualmente, o fazer<br />
interpretativo, que incid<strong>em</strong> sobre os actantes <strong>da</strong> narrativa e os programas narrativos<br />
<strong>de</strong> que participam. O observador po<strong>de</strong> permanecer implícito no enunciado, po<strong>de</strong><br />
estar <strong>em</strong> sincretismo com o narrador ou ain<strong>da</strong> estar instalado como tal no enunciado.<br />
Há casos <strong>em</strong> que o fazer cognitivo do observador po<strong>de</strong> ser reconhecido pelo sujeito<br />
observado.<br />
No que se refere à <strong>de</strong>legação do saber no interior <strong>da</strong> narrativa, diz Fiorin 199 :<br />
[...] t<strong>em</strong>os narradores que sab<strong>em</strong> e narradores ignorantes, iludidos<br />
ou <strong>de</strong>senganados. O objeto do saber também varia: saber sobre a<br />
competência própria ou dos outros, saber sobre os fazeres pragmáticos ou<br />
cognitivos, saber sobre as paixões. A combinação <strong>de</strong>sses el<strong>em</strong>entos do<br />
saber <strong>da</strong>ria a classificação <strong>em</strong> narrador onisciente e não-onisciente, entre<br />
difusão (onisciência multisseletiva) ou concentração do saber.<br />
Embora o narrador só possa relatar o que o observador sabe, narrador e<br />
observador não se confund<strong>em</strong>. Genette 200 , partindo <strong>de</strong> teorias já postula<strong>da</strong>s por<br />
Jean Pouillon e Tzvetan Todorov, aponta três modos <strong>de</strong> observação: narrativa não-<br />
focaliza<strong>da</strong> ou com focalização zero, focalização interna e focalização externa.<br />
A focalização zero se dá nos casos <strong>em</strong> que o observador é onisciente, isto é,<br />
faz uso <strong>de</strong> uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento ilimita<strong>da</strong>. Ele sabe mais do que as<br />
personagens, conhece os sentimentos e os pensamentos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las; po<strong>de</strong><br />
por isso facultar as informações que enten<strong>de</strong>r pertinentes para o conhecimento<br />
minucioso <strong>da</strong> história. Conforme diz<strong>em</strong> Reis e Lopes 201 :<br />
[...] colocado numa posição <strong>de</strong> transcendência <strong>em</strong> relação ao<br />
universo diegético (a não confundir, no entanto, com essa outra<br />
199<br />
FIORIN, <strong>José</strong> Luiz. As astúcias <strong>da</strong> enunciação: as categorias <strong>de</strong> pessoa, espaço e t<strong>em</strong>po.<br />
São Paulo, Ática, 1996, p.103.<br />
200<br />
GENETTE, Gérard. Figure III. Paris, Seuil, 1972, p.206 ss.<br />
201<br />
REIS, Carlos e LOPES, Ana Cristina M. Dicionário <strong>de</strong> narratologia. Coimbra, Almedina, 1996,<br />
p. 174.<br />
86