A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...
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Uma vez apresenta<strong>da</strong>s as linhas gerais que nortearam o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong>ste estudo, passa-se a expor os pontos básicos <strong>de</strong> reflexão que a análise do<br />
objeto possibilitou.<br />
1º ) Um jogo <strong>de</strong> diferenças<br />
Foi possível observar que a base na qual se apóia o significado do texto é a<br />
categoria s<strong>em</strong>ântica que opõe, num jogo <strong>de</strong> contrários e subcontrários, os termos<br />
/união/ versus /separação/. Essa estrutura <strong>de</strong> nível fun<strong>da</strong>mental é a mesma<br />
verifica<strong>da</strong> tanto no plano fantástico quanto no plano histórico <strong>da</strong> narrativa. O<br />
el<strong>em</strong>ento que estabelece conexão entre essas duas isotopias é a própria metáfora<br />
que dá título ao livro. A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, que se <strong>de</strong>sgarra <strong>da</strong> Europa e se lança ao<br />
mar, representa a Península Ibérica numa situação hipotética, na qual Portugal e<br />
Espanha se recusam a participar <strong>da</strong> União Européia. O percurso que a península<br />
traça no Oceano Atlântico constitui-se num dos el<strong>em</strong>entos que expressam os valores<br />
axiológicos veiculados no romance. A união é percebi<strong>da</strong> como negativa para os<br />
países ibéricos, por causa <strong>da</strong>s diferenças econômicas e culturais entre estes e as<br />
d<strong>em</strong>ais nações européias.<br />
2º) Uma cultura <strong>em</strong> transformação<br />
Os programas narrativos (PN) <strong>de</strong>senvolvidos no interior do texto segu<strong>em</strong> a<br />
seqüência narrativa canônica postula<strong>da</strong> pela S<strong>em</strong>iótica <strong>de</strong> linha greimasiana:<br />
manipulação, competência, performance e sanção, nessa ord<strong>em</strong>. Apresentam-se<br />
ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> relação <strong>de</strong> pressuposição unilateral, <strong>em</strong> que o programa narrativo <strong>de</strong> base<br />
(PN1 − realização <strong>da</strong> performance) pressupõe um programa narrativo <strong>de</strong> uso (PN2 −<br />
aquisição <strong>de</strong> competência). Nos dois casos, nota-se o sincretismo actancial entre<br />
sujeito <strong>de</strong> estado e sujeito <strong>de</strong> fazer, configurando uma transformação dita reflexiva.<br />
A manipulação, que provoca uma ruptura com o passado recente, é<br />
<strong>em</strong>preendi<strong>da</strong> por acontecimentos ditos sobrenaturais. Já a união com os novos<br />
valores t<strong>em</strong> como <strong>de</strong>stinador-manipulador o espírito aventureiro. No final, novos<br />
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