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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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<strong>de</strong>sse “sujeito”, <strong>em</strong> torno do qual se organizam o espaço e o t<strong>em</strong>po <strong>da</strong> enunciação.<br />

Enunciação é a instância <strong>de</strong> mediação que assegura a colocação <strong>em</strong> enunciado-<br />

discurso <strong>da</strong>s virtuali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> língua. 65 A pessoa que enuncia o faz num <strong>da</strong>do<br />

espaço e num <strong>de</strong>terminado t<strong>em</strong>po. Assim, a enunciação é o lugar que se po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>nominar ego, hic et nunc, a partir do qual se dá a projeção, para fora <strong>de</strong>ssa<br />

instância, tanto dos actantes do enunciado quanto <strong>da</strong>s coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s espacio-<br />

t<strong>em</strong>porais, que constitu<strong>em</strong> o sujeito <strong>da</strong> enunciação.<br />

O conjunto dos procedimentos capazes <strong>de</strong> instituir o discurso como um<br />

espaço e um t<strong>em</strong>po povoado <strong>de</strong> sujeitos outros que não o enunciador constitui a<br />

competência discursiva no sentido estrito. Se se acrescenta a ela o <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong><br />

figuras do mundo e <strong>da</strong>s configurações discursivas (ver cap. III), que permit<strong>em</strong> ao<br />

sujeito <strong>da</strong> enunciação exercer seu saber-fazer figurativo, t<strong>em</strong>-se então a<br />

competência discursiva <strong>em</strong> sentido lato. 66<br />

Deve-se, porém, distinguir a enunciação propriamente dita, cujo modo <strong>de</strong><br />

existência é ser o pressuposto lógico do enunciado, e a enunciação enuncia<strong>da</strong> que é<br />

o conjunto <strong>de</strong> índices que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> à instância enunciativa. Desta, <strong>de</strong>ve se<br />

diferenciar ain<strong>da</strong> a enunciação reporta<strong>da</strong>, isto é, o simulacro que imita, <strong>de</strong>ntro do<br />

discurso, o fazer enunciativo.<br />

Em se tratando <strong>de</strong> discurso narrativo, diz Maingueneau, esses sujeitos −<br />

enunciador e co-enunciador 67 − são lugares pressupostos pela instituição literária,<br />

lugares do narrador e do leitor instalados no texto, e não um eu e um tu imediatos. 68<br />

Também no que se refer<strong>em</strong> às dimensões espacial e t<strong>em</strong>poral, os textos literários<br />

constro<strong>em</strong> suas cenas enunciativas através <strong>de</strong> um jogo <strong>de</strong> relações internas ao<br />

próprio texto, que implica a instauração <strong>de</strong> certa relação entre o momento e o lugar a<br />

partir dos quais o narrador enuncia e o momento e o lugar dos acontecimentos que<br />

ele narra.<br />

É, pois, na enunciação enuncia<strong>da</strong> que se evi<strong>de</strong>nciam os mecanismos <strong>de</strong><br />

construção <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> sujeito <strong>de</strong>ntro do enunciado. No discurso narrativo, é a<br />

65 GREIMAS, Algir<strong>da</strong>s Julien e COURTÉS, Joseph. Dicionário <strong>de</strong> s<strong>em</strong>iótica. Trad. Alceu<br />

Dias Lima et alii., São Paulo, Cultrix, s.d., p.146.<br />

66 Id<strong>em</strong>, ibid<strong>em</strong>, p. 147.<br />

67 O termo é extraído <strong>de</strong> D. Maingueneau, que, juntamente com A. Culioli, prefere co-enunciador a<br />

enunciatário, <strong>em</strong> razão do papel ativo que este <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha na enunciação.<br />

68 MAINGUENEAU, Dominique. El<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> lingüística para o texto literário. Trad. Maria<br />

Augusta <strong>de</strong> Matos. São Paulo, Martins Fontes, 1996, p. 44.<br />

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