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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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pelo conjunto <strong>de</strong> avaliações e, portanto, um eu. Essa forma <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r o narrador<br />

implícito, também chamado <strong>de</strong> narrador impessoal ou “<strong>em</strong> terceira pessoa”, po<strong>de</strong> ser<br />

compreendi<strong>da</strong> à luz <strong>da</strong> diferenciação que Fiorin 179 faz entre enunciação enuncia<strong>da</strong> e<br />

enunciação reporta<strong>da</strong>, enten<strong>de</strong>ndo que a primeira contém os el<strong>em</strong>entos apreciativos<br />

que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> à instância <strong>da</strong> enunciação e apenas a segun<strong>da</strong> é um simulacro <strong>da</strong><br />

enunciação.<br />

O simulacro enunciativo é erigido pelo próprio narrador, que, percebido como<br />

dimensão imanente ao enunciado, cria um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> proposições constitutivas do<br />

mundo fictício no texto literário. Como ressalta Reyes 180 , a ficção literária não é só<br />

ficção <strong>de</strong> fatos referidos, senão ficção <strong>de</strong> uma situação narrativa ou, <strong>em</strong> geral,<br />

comunicativa completa, <strong>em</strong> que se comunicam narrador e narratário, po<strong>de</strong>ndo este<br />

último também estar implícito ou explícito no texto. Será implícito quando se<br />

constituir apenas <strong>em</strong> uma imag<strong>em</strong> construí<strong>da</strong> pelo narrador e explícito quando o<br />

narrador a ele se dirigir.<br />

É a partir <strong>da</strong> compreensão do texto literário como ficção <strong>de</strong> uma situação<br />

comunicativa completa que se po<strong>de</strong> questionar a <strong>de</strong>nominação narrador <strong>em</strong> terceira<br />

pessoa. Isto porque pela lógica não po<strong>de</strong> existir um falante que seja ele. O que<br />

ocorre, portanto, nesse tipo <strong>de</strong> narração é que o narrador não participa dos<br />

acontecimentos narrados. Mas na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que ele po<strong>de</strong> a todo instante intervir<br />

na narrativa, to<strong>da</strong> narração é virtualmente feita <strong>em</strong> primeira pessoa. Como diz<br />

Reyes 181 , a orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> um texto só po<strong>de</strong> ser um eu, ain<strong>da</strong> que seja amplamente<br />

aceita a idéia <strong>de</strong> que a linguag<strong>em</strong> n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre cumpre funções comunicativas e a<br />

<strong>de</strong>speito do naturalismo, segundo o qual o narrador nunca <strong>de</strong>vesse enunciar-se,<br />

<strong>da</strong>do que os fatos <strong>de</strong>veriam narrar-se por si mesmos.<br />

No campo <strong>da</strong> teoria literária, Genette, <strong>em</strong> Figure III, já questionava a<br />

ina<strong>de</strong>quação <strong>da</strong>s expressões narrativa <strong>em</strong> primeira pessoa e narrativa <strong>em</strong> terceira<br />

pessoa, uma vez que estas acentuam uma variação sobre um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> fato<br />

invariante <strong>da</strong> situação narrativa, que v<strong>em</strong> a ser a presença explícita ou implícita <strong>da</strong><br />

179<br />

FIORIN, <strong>José</strong> Luiz. As astúcias <strong>da</strong> enunciação: as categorias <strong>de</strong> pessoa, espaço e t<strong>em</strong>po.<br />

São Paulo, Ática, 1996, p. 65.<br />

180<br />

REYES, Graciela. Polifonía textual: la citación en el relato literario. Madri, Gredos, 1984, pp.<br />

93-7.<br />

181 Id<strong>em</strong>, ibid<strong>em</strong>, p.98.<br />

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