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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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visto anteriormente, <strong>em</strong> A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, as relações <strong>de</strong> causa e efeito são<br />

referenciais importantes para a articulação do texto. Outro fator organizador <strong>da</strong><br />

narrativa é o t<strong>em</strong>po. Escreve Seixo 193 :<br />

[...] A nosso ver, o encontro <strong>da</strong> específica forma romanesca<br />

pratica<strong>da</strong> por <strong>José</strong> Saramago é-lhe <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte proporcionado pela<br />

concepção do t<strong>em</strong>po. Este é o t<strong>em</strong>po <strong>da</strong> gesta (atitu<strong>de</strong> activa do herói-<br />

sujeito, que o narrador quase mais não faz que cont<strong>em</strong>plar, <strong>de</strong>crevendo) e o<br />

<strong>da</strong> sucessão inexorável (que <strong>de</strong>strói, mas também transformando cria); e<br />

<strong>de</strong>sta conjunção humana vai Saramago extrair uma noção <strong>de</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

(1987:40-1).<br />

Acrescenta-se que, por meio <strong>de</strong> avanços e retrocessos, o narrador contorna<br />

as restrições impostas pela concepção unidimensional do t<strong>em</strong>po, para expressar a<br />

sincronici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s ações e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>em</strong> espiral dos circuitos.<br />

As limitações do texto − quando se trata <strong>de</strong> apresentar fatos ocorridos<br />

simultaneamente − merec<strong>em</strong> do narrador o seguinte comentário:<br />

Dificílimo acto é o <strong>de</strong> escrever, responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s maiores, basta<br />

pensar no extenuante trabalho que será dispor por ord<strong>em</strong> t<strong>em</strong>poral os<br />

acontecimentos, primeiro este, <strong>de</strong>pois aquele, ou, se tal mais convém às<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do efeito, o sucesso <strong>de</strong> hoje posto antes do episódio <strong>de</strong><br />

ont<strong>em</strong>, e outras não menos arrisca<strong>da</strong>s acrobacias, o passado como se<br />

tivesse sido agora, o presente como um contínuo s<strong>em</strong> princípio n<strong>em</strong> fim,<br />

mas, por muito que se esforc<strong>em</strong> os autores, uma habili<strong>da</strong><strong>de</strong> não pod<strong>em</strong><br />

cometer, pôr por escrito, no mesmo t<strong>em</strong>po, dois casos no mesmo t<strong>em</strong>po<br />

acontecidos. 194<br />

É, pois, com ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras acrobacias que o narrador salta os obstáculos <strong>da</strong><br />

lineari<strong>da</strong><strong>de</strong> t<strong>em</strong>poral. Outro ex<strong>em</strong>plo é o modo como vão sendo narrados os<br />

contatos entre as personagens. A primeira informação que se t<strong>em</strong> do encontro <strong>de</strong><br />

Joaquim Sassa e <strong>José</strong> Anaíço e <strong>de</strong>les com Pedro Orce aparece na página 33. Os<br />

três já conversam sob a sombra <strong>de</strong> uma oliveira, na região <strong>de</strong> Córdova, à página 44,<br />

193 SEIXO, Maria Alzira. O essencial sobre <strong>José</strong> Saramago. Lisboa, INCM, 1987, pp. 40-1.<br />

194 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p.12.<br />

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