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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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terrena. Já se disse que os quatro primeiros números representam princípios <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao passo que o número cinco simboliza a Reali<strong>da</strong><strong>de</strong> Final. Dessa<br />

maneira, po<strong>de</strong> também simbolizar o nível <strong>da</strong> psicói<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>, o permanente<br />

substrato <strong>da</strong> psique, a partir do qual tudo o mais evolui. 275<br />

Portanto, Maria Guavaira po<strong>de</strong> ser compreendi<strong>da</strong> como o “quinto el<strong>em</strong>ento”<br />

que integraliza a psique coletiva do povo ibérico, a partir do que to<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>rá evoluir.<br />

4.6 O cão<br />

Outra figura a ser analisa<strong>da</strong> é o cão, cuja imag<strong>em</strong> coletiva surge logo no início<br />

<strong>da</strong> narrativa, <strong>em</strong> simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong> t<strong>em</strong>poral à introdução <strong>da</strong> personag<strong>em</strong> Joana Car<strong>da</strong>:<br />

118<br />

[...] Quando Joana Car<strong>da</strong> riscou o chão com a vara <strong>de</strong> negrilho,<br />

todos os cães <strong>de</strong> Cerbère começaram a ladrar. 276<br />

Um <strong>de</strong>sses cães, já se sabe, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha importante papel actancial, como<br />

sujeito <strong>de</strong> fazer do encontro entre as quatro primeiras personagens e Maria<br />

Guavaira, figurativizando o lado instintivo <strong>da</strong>s pessoas. Mas o cão concretiza ain<strong>da</strong><br />

outros t<strong>em</strong>as relevantes para a significação global do texto. Por ser <strong>de</strong> Cerbère,<br />

comuna do <strong>de</strong>partamento dos Pireneus Orientais, na França, r<strong>em</strong>ete ao mitológico<br />

cão Cérbero, o monstro <strong>de</strong> três cabeças e voz <strong>de</strong> bronze que vigiava a entra<strong>da</strong> do<br />

império dos mortos. A intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong> com a mitologia grega aparece<br />

explicitamente no texto:<br />

[...] o cão Cérbero, que assim <strong>em</strong> nossa portuguesa língua se<br />

escreve e <strong>de</strong>ve dizer, guar<strong>da</strong>va terrivelmente a entra<strong>da</strong> do inferno, para<br />

que <strong>de</strong>le não ousass<strong>em</strong> sair as almas. 277<br />

275 CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário <strong>de</strong> símbolos: mitos, sonhos, costumes,<br />

gestos, formas, figuras, cores, números. Trad. Vera <strong>da</strong> Costa e Silva et alii. Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

<strong>José</strong> Olympio, 1988, p. 241.<br />

276 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p. 7.<br />

277 Ibid<strong>em</strong>, p. 7.

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