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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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Já na terceira parte, busca-se apreen<strong>de</strong>r os efeitos <strong>de</strong> sentido criados por<br />

meio <strong>da</strong> caracterização <strong>da</strong>s personagens, isto é, dos papéis t<strong>em</strong>áticos e dos<br />

percursos figurativos a que estão relaciona<strong>da</strong>s, e <strong>da</strong>s configurações discursivas,<br />

organizadoras do todo <strong>de</strong> significação que é o texto.<br />

Finalmente, numa quarta parte, procura-se estabelecer as relações <strong>de</strong><br />

situacionali<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica às quais o romance r<strong>em</strong>ete, por meio <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação e<br />

<strong>de</strong>scrição dos percursos t<strong>em</strong>áticos que subjaz<strong>em</strong> aos percursos figurativos. Sob<br />

esse aspecto, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já tecer algumas consi<strong>de</strong>rações a respeito <strong>da</strong><br />

interseção entre ficção e reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que se verifica no interior <strong>da</strong> narrativa.<br />

O universo mágico e fantasista <strong>em</strong> A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong> é apreendido já no<br />

título <strong>da</strong> obra, cuja impertinência s<strong>em</strong>ântica contraria esqu<strong>em</strong>as tradicionais relativos<br />

ao saber institucionalizado sobre o que seja a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. O substantivo janga<strong>da</strong><br />

apresenta-se <strong>em</strong> relação <strong>de</strong> incoerência com a locução adjetiva <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>. É preciso,<br />

portanto, fixar o ponto <strong>de</strong> vista a partir do qual o texto <strong>em</strong> estudo, tomado com base<br />

<strong>em</strong> suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong> e aceitabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, será interpretado como<br />

coerente ou incoerente.<br />

Segundo Matheus 2 , um texto é coerente se os el<strong>em</strong>entos cognitivos ativados<br />

pelas expressões lingüísticas estiver<strong>em</strong> <strong>de</strong> acordo com o que se reconhece como<br />

sendo (1) a estrutura dos estados, processos e eventos; (2) as relações lógicas entre<br />

estados <strong>de</strong> coisas, e (3) as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s características dos objetos <strong>de</strong> um mundo<br />

consi<strong>de</strong>rado “normal”.<br />

Sob este aspecto, uma janga<strong>da</strong> feita <strong>de</strong> (fabrica<strong>da</strong> <strong>em</strong>) <strong>pedra</strong> causa <strong>de</strong><br />

imediato um efeito <strong>de</strong> estranhamento por não correspon<strong>de</strong>r à normali<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

chamado “mundo real”. Porém, <strong>de</strong> acordo com Seixo 3 , é o equívoco do ser / não-<br />

ser, <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> / ficção, <strong>da</strong> materiali<strong>da</strong><strong>de</strong>-verbal / imaginário-inefável o produtor do<br />

paradoxo que faz com que a obra literária seja o gênero por excelência <strong>da</strong> mentira,<br />

do fingimento e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, o mais a<strong>de</strong>quado à expressão <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

mundo e do hom<strong>em</strong>. Com este postulado, parece concor<strong>da</strong>r o próprio narrador <strong>de</strong> A<br />

janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong> 4 , quando já no final do romance enuncia:<br />

2<br />

MATHEUS, Maria Helena Mira et. al. Gramática <strong>da</strong> Língua Portuguesa. Coimbra, Almedina,<br />

1983, p. 204.<br />

3<br />

SEIXO, Maria Alzira. O essencial sobre <strong>José</strong> Saramago. Lisboa, INCM, 1987, p. 43.<br />

4<br />

SARAMAGO, <strong>José</strong>. A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>. Cia. <strong>da</strong>s Letras, 1988, p. 304.<br />

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