A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...
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O último componente do esqu<strong>em</strong>a narrativo canônico é a sanção, que se<br />
apresenta sob duas formas, ou seja, segundo as dimensões pragmática e<br />
cognitiva. 56 Viu-se anteriormente que o <strong>de</strong>stinatário-sujeito é sancionado <strong>em</strong><br />
atenção ao contrato que estabelece com o <strong>de</strong>stinador. Entra <strong>em</strong> jogo neste contrato<br />
um sist<strong>em</strong>a axiológico (implícito ou explícito <strong>em</strong> um discurso <strong>da</strong>do) <strong>em</strong> que os<br />
valores são marcados positiva ou negativamente. Em A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong> a<br />
separação <strong>da</strong> Península Ibérica <strong>em</strong> relação à Europa e o direcionamento <strong>da</strong>quela<br />
para o Sul são valores apresentados como positivos. Já no final <strong>da</strong> narrativa, há<br />
como que um encantamento <strong>da</strong>s pessoas com relação à viag<strong>em</strong> coletiva. A<br />
comparação <strong>da</strong> península a uma criança que, viajando, se formou <strong>em</strong> ventre<br />
aquático é relaciona<strong>da</strong> à evolução, ao renascimento <strong>da</strong> população ibérica. Ao girar a<br />
massa <strong>de</strong> <strong>pedra</strong> e terra, era como<br />
[...] se o hom<strong>em</strong>, afinal, não tivesse <strong>de</strong> sair com históricos vagares<br />
<strong>da</strong> animali<strong>da</strong><strong>de</strong> e pu<strong>de</strong>sse ser posto outra vez, inteiro e lúcido, num<br />
mundo novamente formado, limpo e <strong>de</strong> beleza intacta (p.306). 57<br />
E o caminho que Portugal e Espanha tomam também é visto como positivo:<br />
[...] o novo rumo, vistas b<strong>em</strong> as coisas, não era assim tão<br />
mau. Eles estão a <strong>de</strong>scer entre a África e a América Latina [...] Sim, o<br />
rumo po<strong>de</strong> trazer benefícios (p.309). 58<br />
O engravi<strong>da</strong>mento coletivo, por sua vez, é sau<strong>da</strong>do pelas autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Ante a<br />
expectativa <strong>de</strong> nascimento <strong>de</strong> doze a quinze milhões <strong>de</strong> criança, o primeiro-ministro<br />
discursa:<br />
[...] a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> expressão oficial luta contra o apetite do riso, a<br />
todo o momento parece que vai dizer, Portuguesas, portugueses, gran<strong>de</strong><br />
56 COURTÉS, Joseph. Analyse sémiotique du discours: <strong>de</strong> l’énoncé à l’enonciation. Paris,<br />
Hachette, 1991, p. 113.<br />
57 A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, p. 306.<br />
58 Ibid<strong>em</strong>, p. 309.<br />
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