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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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D’Arc, sobrenome <strong>da</strong> heroína francesa, acusa<strong>da</strong> <strong>de</strong> feiticeira e herética. Tendo <strong>em</strong><br />

vista que tudo acontece a partir do ato <strong>de</strong> riscar o chão praticado por Joana Car<strong>da</strong> e<br />

que a personag<strong>em</strong> é percebi<strong>da</strong> como uma espécie <strong>de</strong> maga, <strong>de</strong>scrita mesmo como<br />

“uma mulher com artes <strong>de</strong> esgrima metafísica” (p.118), vê-se confirma<strong>da</strong> a hipótese<br />

<strong>de</strong> que o mágico (o sobrenatural) é o el<strong>em</strong>ento motivador, manipulador, dos<br />

programas narrativos <strong>de</strong>senvolvidos no texto. É no momento <strong>em</strong> que Joana Car<strong>da</strong><br />

risca o chão que os cães <strong>de</strong> Cerbère, na França, que s<strong>em</strong>pre foram mudos,<br />

começam a ladrar, e é naquele mesmo instante também que aparece a primeira<br />

fen<strong>da</strong> numa gran<strong>de</strong> laje natural dos Montes Alberes, nos Pireneus.<br />

102<br />

[...] A fen<strong>da</strong>, subtil, l<strong>em</strong>braria a observador humano um risco feito<br />

com a ponta aguça<strong>da</strong> <strong>de</strong> um lápis, muito diferente <strong>da</strong>quele outro traço<br />

com um pau, <strong>em</strong> terra dura, ou na poeira solta e macia, ou na lama. 233<br />

Ao apontar as diferenças entre o risco feito pela personag<strong>em</strong> e aquele que<br />

marca a primeira fen<strong>da</strong> na cordilheira, o narrador marca também a s<strong>em</strong>elhança entre<br />

os dois, que são a concretização do t<strong>em</strong>a “ruptura”: <strong>em</strong> nível individual, a separação<br />

<strong>de</strong> Joana Car<strong>da</strong> do marido, e, <strong>em</strong> nível coletivo, a separação <strong>da</strong> península <strong>da</strong><br />

Europa. Há ain<strong>da</strong> a figura “lápis”, figurativizando a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> que a escrita t<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

construir uma “reali<strong>da</strong><strong>de</strong>” ou a sua representação.<br />

Mas Joana Car<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha ain<strong>da</strong> outros papéis t<strong>em</strong>áticos. É<br />

apresenta<strong>da</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, como uma mulher que <strong>de</strong>safia preconceitos.<br />

[...] Joana Car<strong>da</strong> [...] não parece mulher para viver <strong>de</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou<br />

a expensas <strong>de</strong> macho. 234<br />

Além <strong>de</strong> se separar do marido, ela t<strong>em</strong> a “ousadia”, numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

conservadora, <strong>de</strong> tomar iniciativas com relação a outros homens. Leia-se o seguinte<br />

percurso:<br />

233 Ibid<strong>em</strong>, p.17.<br />

234 Ibid<strong>em</strong>, p.167.<br />

A mulher levantou-se, e este gesto, inesperado, pois está dito que<br />

as senhoras, segundo o manual <strong>de</strong> etiqueta e boas maneiras, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>

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