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A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

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Como se nota, mesmo criticando a divisão do autor <strong>em</strong> duas instâncias,<br />

Genette admite que só se po<strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r do autor a imag<strong>em</strong> (idée <strong>de</strong> l’auteur) 157<br />

projeta<strong>da</strong> no texto.<br />

A imag<strong>em</strong> do autor implícito é erigi<strong>da</strong> não só pela forma como o autor se<br />

mostra, se constrói ou se <strong>de</strong>nuncia no texto, mas também pelo conjunto <strong>de</strong> normas<br />

sobre as quais está construí<strong>da</strong> a obra, o conjunto <strong>de</strong> escolhas − <strong>de</strong> t<strong>em</strong>as, <strong>de</strong><br />

técnicas, <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista − que faz a obra ser o que é. Em outras palavras, o<br />

autor se manifesta por meio <strong>da</strong>s opções lingüísticas e <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> estilos, e na<br />

i<strong>de</strong>ologia que conforma os t<strong>em</strong>as e a resolução dos conflitos.<br />

Nesse sentido, pod<strong>em</strong>-se visualizar aqui fragmentos <strong>da</strong> imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> autor<br />

implícito construí<strong>da</strong> na escrita <strong>de</strong> <strong>José</strong> Saramago. Fala-se <strong>em</strong> fragmentos <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong><br />

<strong>da</strong> impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cotejar, no espaço <strong>de</strong>ste trabalho, todos os textos do autor. E,<br />

ain<strong>da</strong> que não fosse por esse motivo, seria mesmo impossível obter a imag<strong>em</strong> total<br />

do autor implícito a partir <strong>de</strong> uma obra <strong>em</strong> construção. De modo geral, po<strong>de</strong>-se<br />

apontar algumas constantes na obra <strong>de</strong> <strong>José</strong> Saramago. Em vários <strong>de</strong> seus<br />

romances aparec<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminados t<strong>em</strong>as, tais como: as relações entre i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>, reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e fantasia, pensamento racional e irracional ou ilógico, ciência e<br />

crença; a articulação entre o hom<strong>em</strong> e a terra; a falsa legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r do<br />

Estado; a luta <strong>de</strong> classes sociais; a religião como forma <strong>de</strong> alienação popular; os<br />

i<strong>de</strong>ais progressistas contra as forças conservadoras; o papel e a condição <strong>da</strong> mulher<br />

na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>; a reflexão sobre a precarie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana e a eterna busca do<br />

hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma justificativa e <strong>de</strong> um sentido para a própria existência.<br />

No que se refere às técnicas discursivas, sobressa<strong>em</strong> nos textos <strong>de</strong> <strong>José</strong><br />

Saramago, como já se viu <strong>em</strong> A janga<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>pedra</strong>, o mecanismo <strong>da</strong><br />

intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, implícita ou explícita, por meio <strong>de</strong> referências históricas,<br />

mitológicas, religiosas, literárias, bíblicas; <strong>de</strong> referências às artes plásticas, ao<br />

cin<strong>em</strong>a e a outras formas <strong>de</strong> expressão artística. Ain<strong>da</strong> como intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

surg<strong>em</strong> <strong>em</strong> profusão os clichês, renovados ou não, que veiculam a voz <strong>da</strong><br />

coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a lógica <strong>da</strong> consciência social. A preferência do autor pela linguag<strong>em</strong><br />

157 Embora Genette prefira o termo idéia <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> imag<strong>em</strong>, <strong>de</strong>ve-se atentar para a ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> que<br />

a expressão idéia do autor po<strong>de</strong> criar <strong>em</strong> língua portuguesa. Portanto, neste trabalho, continuarse-á<br />

utilizando o termo imag<strong>em</strong>.<br />

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