30.04.2013 Views

A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

A reconstrução da identidade em A jangada de pedra, de José ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Segundo Reyes 175 , a hipótese <strong>de</strong> que o autor “fala” <strong>em</strong> sua obra, às vezes<br />

s<strong>em</strong> usar a máscara do narrador ou usando o narrador <strong>de</strong> porta-voz, respon<strong>de</strong> a<br />

uma concepção do mundo fictício como um mundo aberto penetrado pelo real; não o<br />

espaço fechado pelas linhas d<strong>em</strong>arcatórias do simulacro enunciativo. Para a autora,<br />

as informações extraliterárias, por mais que possam contribuir para ampliar as<br />

probabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura <strong>da</strong> obra, não <strong>de</strong>rrubam a idéia <strong>de</strong> que a voz do autor, no<br />

texto literário, se converte na voz <strong>de</strong> um falante fictício, diferente <strong>da</strong> voz que<br />

conce<strong>de</strong> uma entrevista. Nisso parece não acreditar <strong>José</strong> Saramago:<br />

3.3 Os papéis do narrador<br />

[...] tudo é tudo, e é que, digamos, eu não separo aquilo que é ficção<br />

do que é real e, portanto, é como se eu fizesse uma espécie <strong>de</strong><br />

interpenetração constante entre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a ficção negando as fronteiras<br />

que existiram entre uma e outra. 176<br />

O segundo nível <strong>de</strong> hierarquia enunciativa é aquele do <strong>de</strong>stinador e do<br />

<strong>de</strong>stinatário instalados no enunciado. Trata-se <strong>de</strong> actantes <strong>da</strong> enunciação<br />

enuncia<strong>da</strong>, sujeitos diretamente <strong>de</strong>legados do enunciador e do enunciatário,<br />

respectivamente chamados narrador e narratário. 177<br />

Partindo <strong>da</strong> distinção entre autor, enti<strong>da</strong><strong>de</strong> real e <strong>em</strong>pírica, e narrador, Reis e<br />

Lopes 178 <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> este último como autor textual, enti<strong>da</strong><strong>de</strong> fictícia a qu<strong>em</strong>, no cenário<br />

<strong>da</strong> ficção, cabe a tarefa <strong>de</strong> enunciar o discurso como protagonista <strong>da</strong> comunicação<br />

narrativa.<br />

O narrador po<strong>de</strong> estar explícito ou implícito no texto. O narrador explícito é<br />

niti<strong>da</strong>mente observável através <strong>da</strong> presença <strong>de</strong> um eu narrativo instaurado no<br />

enunciado. Já o narrador implícito, <strong>em</strong>bora não esteja instalado por uma <strong>de</strong>breag<strong>em</strong><br />

actancial enunciativa, correspon<strong>de</strong> a uma instância do enunciado que é responsável<br />

175<br />

REYES, Graciela. Polifonía textual: la citación en el relato literario. Madri, Gredos, pp. 109-10.<br />

176<br />

Apud REAL, Miguel. Narração, maravilhoso, trágico e sagrado <strong>em</strong> M<strong>em</strong>orial do Convento <strong>de</strong><br />

<strong>José</strong> Saramago. Lisboa, Caminho, 1995, p.13.<br />

177<br />

GREIMAS, Algir<strong>da</strong>s Julien e COURTÉS, Joseph. Dicionário <strong>de</strong> s<strong>em</strong>iótica. Trad. Alceu Dias Lima<br />

et alii., São Paulo, Cultrix, s.d., p. 294.<br />

178<br />

REIS, Carlos e LOPES, Ana Cristina M. Dicionário <strong>de</strong> narratologia. Coimbra, Almedina, 1996,<br />

p.257.<br />

77

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!